Japorã, MS (AE) – Os focos de suspeita de aftosa se expandem na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Defesa Sanitária Animal vai a ampliar a área sob situação de emergência na região. Até a tarde de hoje (16), já eram pelo menos cinco as propriedades com animais apresentando sintomas da doença em Japorã, cidade da região. Se a doença for confirmada, o estado de emergência sanitária, que desde a semana passada atinge os municípios de Eldorado, Japorã, Itaquiraí, Mundo Novo e Iguatemi, será estendido a Sete Quedas e Tacuru.
A emergência foi decretada com a confirmação do surto na Fazenda Vezozzo, em Eldorado. Todo o plantel, de 582 bovinos, foi abatido. Também foi confirmada a doença na fazenda Jangada, vizinha à Vezozzo, em 270 animais que serão abatidos amanhã. A área da fronteira sob vigilância vai aumentar dos atuais 80 para 140 quilômetros.
A prefeitura de Japorã vai decretar amanhã estado de calamidade pública por causa dos possíveis focos de aftosa no município. A cidade já estava em estado de emergência municipal por causa da seca que atingiu o sul do Estado no primeiro semestre.
Prefeitos dos cinco municípios reúnem-se amanhã com secretários do governador José Orcírio de Miranda (PT), o Zeca do PT, para discutir um plano emergencial para a região. Rubens Freire Marinho, prefeito de Japorã, quer uma ajuda de R$ 300 para cada sitiante do município atingido pela interdição. Segundo ele, cerca de 350 dos 400 pequenos produtores rurais estão impedidos de comercializar leite, carne e derivados. "Eles tinham apenas essa atividade como fonte de renda."
Sem-terra – A defesa sanitária considera crítica a situação do município por causa da presença de sem-terra e índios entre os criadores de gado. Um dos supostos focos da doença teria surgido no Assentamento Indianópolis, vinculado à Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri). O prefeito foi informado de que a doença pode ter chegado também na reserva Porto Lindo, dos índios caiová-guaranis. Os indígenas têm cerca de 250 cabeças de gado. "O controle vai ficando cada vez mais difícil", comentou.
Técnicos da Agência Estadual de Sanidade Animal e Vegetal (Iagro) continuam inspecionando fazendas e sítios do município, além de 267 pequenos criadores dos assentamentos. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) mantém um acampamento com mais de 200 famílias a cerca de 2 quilômetros de um dos possíveis focos. A mobilidade do grupo, que recentemente desocupou a fazenda Savaninha, preocupa.
Ontem, os sem-terra de outro acampamento consumiram a carne de três bois abatidos pela Polícia Rodoviária Federal. O líder do acampamento, Osmarino Xavier, disse que os acampados não têm bovinos e não pretendem deixar a área. Eles estão acampados numa reserva do Assentamento Roseli Nunes.
O governo paraguaio passou a usar a força aérea para fiscalizar a região de fronteira com o Brasil. Segundo o coronel Miguel Angel Aquino, comandante da 41.ª Região Militar, helicópteros e aviões são utilizados para impedir que o gado brasileiro atravesse a fronteira. Ele negou a existência de aftosa no lado paraguaio. "O que sabemos até agora é que o foco surgiu em Eldorado, no Brasil. O resto é especulação."