A Associação de Preservação da Cultura Cigana calcula que no Brasil existam
cerca de um milhão de ciganos. Desses, 300 mil seriam nômades. Vistos ainda com
preconceito pela sociedade, os ciganos estão presentes na 1ª Conferência
Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Até amanhã (2), eles pretendem
reivindicar do governo adaptações nos sistemas de saúde e educação para garantir
um atendimento adequado às comunidades.
Representante da Associação de
Preservação da Cultura Cigana, Yaskara Guelpa conta que só agora os gestores
públicos estão reconhecendo as características especiais do povo cigano e se
dispondo a discutir políticas públicas. "Até pouco tempo, eles não concordavam
em sequer nos receber nos gabinetes. Agora, estamos sendo ouvidos com mais
freqüência", afirma Guelpa.
De acordo com ela, na área da saúde, os
ciganos querem mais compreensão para o fato das mulheres só aceitarem
atendimento ginecológico de médicas. A resistência dos postos e hospitais a essa
exigência cultural estaria obrigando muitas mulheres a morrer por complicações
no parto ou desenvolver doenças que poderiam ser prevenidas.
Na área de
educação, o grande problema é a matrícula das crianças em idade escolar. Os
grupos nômades têm o costume de mudar o acampamento de três em três meses. Com a
demora no processo de matrícula, muitas crianças ficam sem estudar. Aquelas que
conseguem a matrícula, muitas vezes são discriminadas em sala de aula pela falta
de entendimento dos próprios professores sobre os hábitos ciganos, avalia
Guelpa.
"Além da demora no atendimento, nas matrículas e a falta de
compreensão, ainda enfrentamos nos hospitais e escolas públicas um preconceito
incrível. Os próprios funcionários seguram a bolsa quando passamos por perto",
denuncia a cigana Yaskara Guelpa. "As pessoas ainda acreditam em mitos como o de
que cigano rouba criança. Isso não é verdade. Foi um mito construído ao longo do
tempo com base na época em que muitas mulheres entregavam os filhos indesejados
para as ciganas criarem."