Conhece alguém que nunca fez dieta, come o quanto quiser sem nunca engordar um quilo – os chamados ?magros por ruindade?? Enquanto outros parecem engordar só de olhar para um pedaço de bolo? A culpa pode ser da termogênese induzida por alimentos, processo pelo qual o organismo transforma o excesso de calorias em calor, em vez de gordura. O mecanismo já é estudado desde a década de 60, mas só agora pesquisadores estão descobrindo como ele funciona.
Em estudo publicado hoje na revista Science, cientistas nos EUA provam pela primeira vez que a termogênese alimentar realmente existe e é controlada pelo sistema nervoso simpático, ou adrenérgico. Mais do que isso, descobriram os receptores celulares especificamente envolvidos nesse processo, oferecendo novas frentes de pesquisa para o tratamento da obesidade.
O hipotálamo, uma pequena estrutura no centro do cérebro, monitora a quantidade de calorias ingeridas e, quando esse número é superior ao necessário para o funcionamento do organismo, envia um comando nervoso para que o excesso seja ?queimado?, segundo os pesquisadores. Eles criaram camundongos geneticamente modificados que não possuem três receptores adrenérgicos, chamados betaARs, responsáveis por repassar os comandos do sistema nervoso para as células. Uma espécie de personal trainer molecular, que diz quantas calorias as células precisam queimar. Alimentados com a mesma quantidade de comida que camundongos normais, as cobaias modificadas se tornaram grosseiramente obesas.
?O cérebro ordena a queima das calorias, mas o tecido não responde?, explica o fisiologista brasileiro Antonio Bianco, co-autor do estudo pela Faculdade de Medicina de Harvard e pelo Brigham and Women?s Hospital, em Boston. ?O organismo não tem como se defender da dieta.?
Dois grupos de camundongos jovens, de 25 gramas cada um, foram alimentados por oito semanas com uma ração rica em açúcar e gordura. Os animais normais engordaram 6 gramas e os sem receptores adrenérgicos, 27 gramas – mais que o dobro do seu peso original. ?E o ganho foi todo na forma de gordura?, diz o coordenador da pesquisa, Bradford Lowell, também da Medicina de Harvard.
A termogênese certamente não é o único fator determinante para o metabolismo, mas pode ser chave para o desenvolvimento de novas drogas e tratamentos contra a obesidade.