O cientista político Herman Zanette, da Universidade de Brasília (UnB), vê o processo eleitoral no Brasil como exemplo para o mundo, por causa do equilíbrio em que ocorre. Ele lembra que nos Estados Unidos, pratica-se “uma campanha, via de regra, de baixo nível, com acusações pessoais e denúncias de fraudes eleitorais, onde se questiona a própria legitimidade do mandato do governo Bush”. O professor, ex-constituinte, é autor da proposta que assegurou o voto a partir dos 16 anos de idade.
Segundo Zanette, há hoje no Brasil uma evolução do processo político e um ganho de consciência sobre o valor do voto como instrumento de transformação, de participação, de decisão política. Ele diz que o eleitor toma consciência de que a venda do seu voto vai impedir a realização de um processo democrático e que o voto consciente lhe dará melhores perspectivas de vida, assim como para seus filhos. “O povo brasileiro vive o período mais longo de sua autonomia, de sua vontade política, ou seja, o voto valendo como um instrumento de poder”, afirma o cientista político.
Ele explica que depois de muitos séculos, o país conseguiu firmar sua estabilidade econômica e democrática. “Falta a construção de mais igualdade porque esse período de liberdade é que permite a construção da democracia formal. Mas, a democracia substancial, aquela que faz com que o povo enxergue que ele vai encurtar as distâncias entre uma pequena minoria de ricos e uma imensa maioria de pobres, essa realidade o povo ainda não sentiu”, afirma Zanette.
Para ele, a eleição de Lula, que vem dessas imensas maiorias que têm pouco ou nada, inspira o povo a participar mais do processo político. Segundo o professor, todos esses ingredientes tornam a eleição de 2004 muito especial.
Herman Zanette afirma que o Brasil avançou na integração nacional e hoje o centro e o sul do país conhecem bem os problemas da região amazônica, e essa consciência é também produto da evolução do processo político.
O professor da UnB lembra que o povo está aprendendo a caminhar, depois de ter ficado muito tempo fora do processo eleitoral. “Não tenho nenhuma dúvida de que o povo evoluiu e muito, na sua compreensão, na sua reflexão sobre a importância do voto e do processo político. Porque, evidentemente, ele está sentindo cada vez mais que, ao votar – e votar naquelas pessoas que têm história, que têm condições de viabilizar decisões, que viabilizem os seus anseios – ele vai se conscientizando da importância disso e vai participando com maior afinco, com maior atenção”.
De acordo com Zanete, os políticos são um reflexo da sociedade como um todo, havendo os que sabem aproveitar os espaços de rádio e televisão gratuitos e os que não sabem fazê-lo. Mas, esse espaço ajuda o povo a fazer melhor as escolhas, acrescenta.
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