Em busca de redução de custos e mais lucro, as maiores companhias aéreas estão concentrando a atuação no chamado filé mignon do mercado, as capitais com maior movimento de passageiros. Em contrapartida, cidades com movimento menos rentável atraem o interesse de poucas empresas e correm o risco de ficar desassistidas.
Isso poderá ocorrer, relatam especialistas, com a distribuição de rotas que a Varig deixou de operar. Para atender às metrópoles, as rivais terão de deslocar aviões de cidades menos lucrativas para atender às capitais mais importantes, já que é escassa a oferta de aeronaves novas e econômicas em todo o mundo.
Levantamento feito pelo jornal O Estado de S.Paulo nas páginas de internet das cinco maiores empresas aéreas do País mostra que das 27 capitais brasileiras, 10 são atendidas por apenas duas companhias. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desse grupo de cidades, três têm mais de 500 mil habitantes: Teresina (788.773), Campo Grande (749.768) e Cuiabá (533.800). Oito metrópoles contam com BRA, Gol, OceanAir, Varig e TAM. Nas demais nove localidades a presença varia de três a quatro empresas.
O encolhimento da operação da Varig, que até julho atendia a 26 capitais do País, tem alimentado essa tendência, segundo os especialistas de aviação. "A cobertura do serviço aéreo vem se deteriorando ao longo dos últimos 30 anos. A crise da Varig acentuou as coisas no curto prazo", afirma o coordenador do Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo (Nectar), Alessandro Oliveira.
A falta de uma política de estímulo para a aviação regional, diz Oliveira, também tem contribuído para essa situação. De acordo com ele, deveria haver um esforço conjunto do mercado, da Infraero, que administra e investe na ampliação e melhoria de aeroportos, e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para encontrar uma solução. Mas ele lembra que nem sempre os empresários do setor pensam nisso. "As localidades menos lucrativas são punidas. Se há escassez de capacidade, ela é contornada onde há mais lucro.
É por isso que, na redistribuição de rotas que a Varig deixou de operar desde julho, quando a crise a obrigou a reduzir a frota, com conseqüente diminuição no quadro de funcionários, algumas cidades correm o risco de ficar sem empresas aéreas.
Oliveira lembra que a oferta mundial de aviões está em baixa. Com isso, as concorrentes da Varig que quiserem ocupar o seu espaço terão de deslocar aviões de rotas menos lucrativas para as mais rentáveis.