Chuteiras são as vilãs das contusões de joelho

Surgiu um novo vilão para as lesões de joelho que recentemente tiraram de circulação os atacantes Obina, Nilmar, Alemão e Kerlon: as chuteiras. A suspeita foi levantada pelo médico do Palmeiras, Vinícius Martins, e agora passou a ser discutida por especialistas.

Os quatro jogadores sofreram ruptura do ligamento cruzado de um dos joelhos. Nenhum deles se lesionou por choque contra adversários: todos se machucaram sozinhos, ao prender o pé no gramado.

Os modelos de calçados usados pelos atacantes de Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro tinham o mesmo solado, com as travas longitudinais, em lugar das tradicionais travas redondas.

‘Essas chuteiras são ruins, porque fixam o pé no campo e impedem o jogador de girar’, alertou Martins, que cuida da recuperação de Alemão.

O médico do Santos, Joaquim Grava, diz que não se pode responsabilizar apenas o calçado, mas reforça: ‘Esse modelo é o campeão de incidências de lesão de ligamento cruzado.

Grava acrescenta que esse tipo de solado ‘é muito bom para o arranque’, mas prejudica no momento em que o atleta precisa girar o corpo.

Eu recomendo para os jogadores do Santos, e também para quem me pergunta: o melhor é usar aquelas chuteiras tradicionais, com travas redondas, que oferecem menos riscos de lesão’, sugere. No São Paulo, os jogadores também foram orientados a não usar esse tipo de chuteira.

Lesões como essa já atrapalharam a carreira de Ronaldo, Pedrinho Ricardo Oliveira, Amoroso, Cicinho, Raí, do pivô Nenê e tirou da última Copa do Mundo o meia alemão Sebastian Deisler. Mas nunca os calçados foram apontados como culpados por suas contusões.

O volante Francis, do Palmeiras, que usa o mesmo tipo de chuteira que os jogadores lesionados, discorda da tese que culpa as travas dos calçados. ‘Acho que não é culpa da chuteira’, diz. ‘Eu uso e não vejo problema nenhum. Acho que foi o acaso mesmo’, completa.

O fisioterapeuta Ricardo Takahashi, que trata de jogadores de futebol e no ano passado cuidou de Gustavo Kuerten, diz que ‘há fatores mais importantes’ do que as chuteiras. ‘A condição física de cada jogador e até mesmo do gramado são fatores que podem pesar mais’, diz.

O técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, culpa a maratona de jogos. ‘Aqui no Brasil, quando acontece alguma coisa, sempre aparece um monte de teoria’, diz Muricy. ‘Eu acho que a culpa é do calendário. Vai continuar assim enquanto não tivermos um calendário racional’, emendou o treinador.

As empresas respondem

A Nike, que fabrica o modelo usado por Obina, Nilmar e Alemão, afirma que o sistema de travas longitudinais foi lançado em 2002 e que desde então não há registro de lesões causadas por seu produto. ‘Vários atletas participaram dos testes e a utilizam largamente como Cristiano Ronaldo e Robinho, entre outros’, cita a empresa, em nota.

A Adidas, fabricante da chuteira usada por Kerlon no momento de sua lesão, diz que esse tipo de trava é usado desde 1995 em seus modelos. A nota da fabricante diz que um ‘estudo independente’ realizado na Alemanha, em 2006, teria provado que suas travas ‘exercem menos pressão nos ligamentos do joelho’ do que outros modelos testados.

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