Churrasco no Torto

Nada que fosse rigorosamente alheio a uma visita cordial de um chefe de Estado a outro, se um deles não fosse George W. Bush, teoricamente o homem mais poderoso da face da Terra. Só por esse pormenor, a capital federal e, especificamente, a Granja do Torto, onde se deu o encontro, se transformaram neste final de semana alvo de atenções planetárias.

Antes do convescote com Lula num dos espaços que a Presidência dispõe em Brasília, Bush participou da 4.ª Cúpula das Américas em Mar del Plata, cidade costeira da Argentina, onde houve protestos acirrados contra sua presença. Tudo dentro das previsões dos assessores do governo norte-americano e do pessoal da organização local.

Na verdade, os protestos apenas marcaram o histórico ressentimento dos povos latino-americanos com relação ao vizinho arrogante, cujos dignitários postam-se acima do Rio Grande, mas insistem em mostrar dominação irrestrita sobre os demais estados nacionais, do México aos confins da Patagônia.

O encontro dos chefes de Estado, tirante a ausência de Fidel Castro e as recorrentes intervenções de Hugo Chávez, que a diplomacia primeiro-mundista tem na conta de bufonerias extravagantes, foi um desfile de discursos óbvios e de escasso conteúdo geopolítico. A Alca, principal tema do evento, foi um desencanto só.

Na volta pra casa, Bush resolveu fazer uma graça com seu colega brasileiro e almoçou com ele na Granja do Torto, onde foi servido churrasco de picanha e alcatra trazidas do Mato Grosso do Sul.

Ponto a favor da retórica lulista, vez que os recentes focos de febre aftosa se localizam no referido estado, embora não haja o menor risco para os humanos no consumo da carne bovina. Bush, que havia pedido a Lula que mostrasse a ele a localização da Amazônia no mapa do Brasil, disse ter apreciado o almoço.

Ambos discursaram e o tom foi de elogios de parte a parte. O óbvio ululante, sem trocadilho, manda reconhecer na agenda de Bush um esforço de solidificar o alinhamento de Lula, sobretudo nas quizílias com o presidente da Venezuela e sua ensaiada disposição de proclamar-se uma ameaça à hegemonia de Washington.

O chanceler Celso Amorim disse que não é plano de Lula servir como intermediário entre Bush e Chávez, o que pode ser entendido como recado de não se levar tão a sério o falastrão de Caracas.

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