Chupisco e Vavá

Há constrangimentos no Planalto Central, em especial na Presidência da República e na cúpula do PT. Os últimos vazamentos de informações da Operação Xeque-Mate, da Polícia Federal contra exploradores da indústria dos bingos, colocaram na berlinda um irmão do presidente Lula, Vavá, e um seu compadre, Chupisco, apelido dado a Dario Morelli Filho. Este foi preso e aquele, alvo de suspeitas de estar achacando exploradores do jogo. Ou tentando achacar. No caso de Vavá, basta o fato de ser o irmão mais velho do presidente da República e haver gravações em que pede a indiciados propinas, insinuando prestígio junto a níveis superiores da administração, para provocar maliciosas suspeitas. A PF, que se defende dos vazamentos que desagradam o governo com o argumento de que não pode impedi-los na medida em que é obrigada a dar acesso aos inquéritos para os advogados, vai desde logo dizendo que não existem provas de que o irmão de Lula recebeu as gorjetas pedidas nem que conseguiu os favores reivindicados ou prometidos aos exploradores da jogatina. E vai adiante, esclarecendo que nada existe contra o presidente da República. Mas ninguém disse que existe. O caso é que é inevitável que os fatos envolvendo o irmão, o compadre e, no passado, um filho de Lula, além de outras associações inconvenientes e até ilegais de negócios particulares com a coisa pública, provocam uma defesa prévia, porque seria hipocrisia negar que tem gente com o rabo no meio das pernas e pessoas, do lado contrário, apostando num envolvimento oficial nos negócios escusos, mesmo que sem provas.

O professor Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, teoriza: ?A idéia deles é: Lula é nosso amigo. A amizade do bar em São Bernardo é levada a Brasília?. Para o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, dizer que é ?amigo do Lula é salvo-conduto. Apontar o dedo para Lula seria pecado. Quando o líder não pode ser responsabilizado, a corte e seu entorno também não podem?.

Se nada ficar provado contra altas autoridades, embora não possamos esquecer que por causa de inquéritos já caíram ministros e outros elementos dos altos escalões, o fato é que na corte o baile cada dia mais ganha jeito de gafieira. Na nova crise que ronda o Planalto, Dario Morelli Filho, o Chupisco, ganha destaque superando o de Vavá, irmão de Lula, pois este, se não agiu bem, não se envolveu em altas negociatas e teria ficado com pedidos de pequenas gorjetas aos chefões do jogo. E passa a significar menos ainda quando se imagina que nem favores pediu ou conseguiu para os poderosos do jogo. Quanto a Morelli, acabam de descobrir que foi contratado para fornecer carros à campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo paulista. Pelos serviços, recebeu, segundo declarado ao TRE, R$ 187,6 mil entre agosto e outubro de 2006. Usou uma empresa que se chama Dario Morelli Filho. A empresa teve sua movimentação financeira elevada de R$ 320 mil, em 2005, para R$ 661 mil no ano passado.

Morelli declara que trabalhou na campanha de Lula. Não especifica em qual ou se em todas. Confirma que neste ano esteve duas vezes com Lula, mas foi um papo de compadres na casa particular do presidente e não trataram de política. Morelli sempre esteve atuante na coordenação da campanha e, segundo a assessoria do senador Mercadante, alugou carros por indicação do diretório estadual do PT. A assessoria do senador diz que Chupisco aluga tradicionalmente carros para as campanhas petistas, além de fornecê-los para o próprio diretório estadual. Ele é militante do PT e foi contratado, em 2002, como funcionário da empresa de saneamento de Diadema, município administrado pelo PT. Seu salário era de R$ 4.500 mensais. A Prefeitura diz que ele trabalhava, mas a assessoria do ex-deputado Roberto Gouveia, em cujo gabinete Morelli deveria atuar como servidor posto à disposição, afirma que ele nunca apareceu na Assembléia. Era funcionário fantasma. O compadre de Lula foi duas vezes contratado por Gouveia: na presidência da Assembléia e como motorista. Foi também segurança de José Dirceu. Outros petistas formaram empresas ou usaram as que já tinham para faturar nas campanhas do partido.

E a coisa se torna mais grave e inspira novas suspeitas quando se observa que Chupisco ocupava funções-chave na máfia dos bingos. Há gente que nunca tinha comido melado. E agora estava se lambuzando.

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