Chovendo no molhado

Foi cumprido com esmero o rito constitucional da transição democrática dos cargos de presidente da República e governadores estaduais. Reeleitos uns e eleitos outros, o presidente e governadores dos 26 estados e do Distrito Federal desde anteontem estão em pleno gozo do poder derivado da vontade popular, tendo cada um se esforçado ao máximo para postar-se à altura do momento histórico, ao jurar a Constituição e a defesa intransigente dos interesses da população.

Quatro anos estão diante dos gestores públicos em Brasília e nas sedes estaduais para a execução de seus programas. Nos casos específicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Roberto Requião, afora os longos e empolados períodos dos discursos de praxe, quase nada foi dito sobre os principais projetos do quadriênio e, tampouco, de que forma o planejamento ainda desconhecido será concretizado.

No plano federal, a situação fica ainda mais grave, considerada a estagnação da economia e a ausência de sinais de vida ativa em setores cruciais para o desenvolvimento, como a indústria, o agronegócio e a construção civil, entre outros. Como ninguém é de ferro, o presidente deixou para depois das férias de 10 dias, iniciadas ontem de manhã, ou seja, para a segunda quinzena do mês, o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento.

Nesse programa, supõe-se que estejam definidas as linhas mestras da intenção governamental quanto aos investimentos públicos nos setores suscetíveis de desencadear reações emulativas na iniciativa privada. Contudo, como as coisas descansam no terreno da especulação, é preciso aguardar a fala do governo para avaliar se a montanha, pela enésima vez, não acabará parindo mais um camundongo.

A verdade é que o governo não foi capaz de ultimar um plano compacto e, ao mesmo tempo, com a consistência e a visão pragmática necessárias para o enfrentamento do problema crônico da limitação do investimento público na infra-estrutura, em nível suficiente para robustecer a confiabilidade do investidor privado. O exemplo dessa realidade pouco estimulante é que, findo o primeiro mandato do presidente Lula, nenhum contrato das alardeadas Parcerias Público-Privadas (PPPs) foi celebrado no País.

Assim, a administração federal está compelida a correr atrás do tempo perdido no que tange às grandes lacunas infra-estruturais do País, além da pesada luta a ser travada no Congresso, sob pressão de entidades representativas da sociedade organizada, para o encaminhamento das reformas político-institucionais de extrema necessidade, mas ainda inconclusas.

No panorama doméstico, a cena não foi diferente. O governador Roberto Requião, ao assumir o segundo mandato na Assembléia Legislativa, fez um pronunciamento de natureza política, marcado pela agressividade dos termos usados para se referir aos adversários – todos situados à direita – embora sob a ressalva da não-utilização da categoria marxista para o duvidoso enquadramento, mas nada adiantou sobre as linhas estratégicas para o crescimento da economia estadual.

Aliás, a opinião de O Estado do Paraná sobre a postura do governador foi claramente exposta na abertura do Et Cetera de ontem: ?Frases de efeito à parte, o fato é que o teor do discurso – que a coluna considera dispensável comentar a fundo devido a seu conteúdo repetitivo – trouxe um novo governo, mas que chega com cara de roupa velha. Requião só fez chover no molhado?.

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