Manaus (AE) – Quatro municípios amazonenses anunciaram hoje (16) que estavam sob chuvas e acenderam a esperança de que a dramática seca que castiga a região, que tem o maior reservatório de água do doce do planeta, esteja para acabar. Hoje de manhã chovia em Guajará e Carauari, ambas no Rio Juruá, em Tocantins, no Alto Solimões, e em Humaitá, no Rio Madeira. Essa chuva não é ocasional, pois agora começa o "inverno" amazônico, a estação das chuvas.
Mas apesar de já estar chovendo em alguns municípios, a previsão dos meteorologistas é de que a água acumulada das chuvas ainda leve aproximadamente 30 dias para chegar a lugares mais distantes, onde a seca tem sido inclemente.
A seca quebrou a tradicional forma de interligação das comunidades na Amazônia, o transporte fluvial. Com a baixa vazão dos rios, tornou-se difícil e, em muitos locais, impossível, chegar a muitas comunidades ribeirinhas. As comunidades indígenas ficaram praticamente isoladas, pois à grande maioria delas só se chega de barco.
O governo estadual contratou 5 helicópteros para atuar no transporte de alimentos e medicamentos a comunidades isoladas mas eles estão se mostrando insuficientes. "Estamos agora dependendo da FAB", disse o governador Eduardo Braga.
As ações estão sendo feitas em parceria com Exército, Marinha e Aeronáutica, que ajudam a levar, às comunidades isoladas, carregamentos de alimentos, de medicamentos e, principalmente, de hipoclorito de sódio, um purificador da água que é fundamental para garantir a saúde das pessoas porque o que restou de água nas fontes naturais está contaminado por uma enorme quantidade de peixes mortos.
O ministro-chefe da Segurança Institucional, general Jorge Félix, voou ontem, ao lado do governador, para avaliar os efeitos da seca sobre a região de Manaquiri, a 150 km de Manaus. "O que vi foi impactante", disse o general, quando chegou de volta ao Comando Militar da Amazônia. Ele admitiu que a situação é preocupante e disse que o governo federal está pronto a ajudar no que for preciso.
O sobrevôo do ministro começou sob boa expectativa, já que nuvens carregadas cobriam o céu de Manaus. De fato, choveu no trajeto, o que mostrou um fenômeno curioso: quando a água da chuva atingia os leitos secos dos rios, provocava uma emanação de vapor d’água que se confundia com a fumaça dos muitos focos de queimadas ainda latentes.
A comitiva do general Félix aportou na pequena comunidade de Santo Antônio, um distrito de Manaquiri, onde a única fonte de água e gerador de alimentos, o lago do Inajá, está completamente seco. As crianças estão chegando à escola caminhando pela lama do leito ressecado dos rios, contou a professora Vera Soares.
Para chegar à sede do município, as pessoas têm de caminhar por mais três horas sobre a lama, nos locais onde antes navegavam os barcos.