Dois pesos-pesados da política e da economia nacional ocuparam microfones e câmaras para exorcizar o mau-humor e a temperatura aziaga que ultimamente tomou conta da nação, no embalo do nervosismo dos mercados financeiros internacionais e das vicissitudes eleitorais que vivemos. E um deles – o empresário Antônio Ermírio de Morais – chegou a recomendar aos que não quiserem tirar as viseiras do pessimismo que deixem o País. “Que comprem uma passagem só de ida, sem retorno”, disse o veterano empresário sempre consultado em momentos difíceis.

Ermírio fez eco, na sexta-feira passada, ao discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso que, ao falar na inauguração de uma fábrica de celulose, no Espírito Santo, anatematizou os pessimistas e “choramingões”. E quer nos parecer que este deva ser o tom conjugado por este outro Brasil, mais extenso e real, que vive do próprio trabalho sem muita importância dar aos que especulam e, vira e mexe, são vítimas da própria especulação.

É claro que não se pode fazer como avestruz. Ignorar o que se passa a nosso redor – na Argentina, agora no Uruguai e alhures – seria burrice. Mas subir no muro das lamentações também não significa nenhuma posição inteligente ou capaz de funcionar como espantalho da borrasca que se forma no horizonte. Em tempos ou situações difíceis, um pouco de fé sempre ajuda. Ermírio de Morais, por exemplo, observa que trabalha no Brasil há 53 anos e já viu “essas crises mais de 200 vezes”. Continua investindo no País porque acredita nele e convida os brasileiros a seguirem seu exemplo.

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi um pouco além na costura de um discurso quase todo dirigido a causticar pessimistas que, além de só saberem criticar, nada constroem. Não os mandou embora. Mas deixou claro que deles o Brasil não precisa. Como requer a oportunidade, criticou também falsas promessas de campanha e os derrotistas de plantão para dizer que “quando o sonho é vazio, vira pesadelo para os outros, pois é promessa que não vai ser cumprida e vai dar dor-de-cabeça”. “Gente que não acredita, não faz”, sentenciou o presidente.

É evidente que, assim como na política, nessas crises atuais dos mercados há um componente psicológico muito forte, a produzir gráficos em todas as direções de acordo com índices de credibilidade ou confiança ditados ao sabor de interesses que não são claros, ou mesmo de um certo tipo de informação que poderia ser chamada de fofoca ou boataria globais. O homem deste século XXI, enquanto desaprende a sobreviver do trabalho e da produção, passa a ser vítima do próprio sistema de informação que construiu. Não é por outra que o mundo – como observou há dias o mesmo presidente Fernando Henrique Cardoso – parece que enlouqueceu.

A reação à onda de pessimismo (ou a essa loucura) que se espalha na velocidade da luz é legítima e necessária. Mesmo porque o alarido é produzido por uma minoria que detém o domínio dos comandos digitais do mundo. A maioria trabalha sem cessar e “o barulho que faz não é o da palavra muitas vezes fácil e vazia, que não diz nada e que engana. Mas é o da construção paulatina de um grande país”.

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