Choque de gestão

O venezuelano Hugo Chávez chama o seu governo autoritário de socialista bolivariano. O de Lula seria capitalista e, porque insiste em chamá-lo de socialista, é preciso buscar nos dicionários ou inventar um neologismo para batizá-lo. Poucos governos brasileiros foram tão capitalistas quando o de Lula. Que o digam os membros das classes mais favorecidas, que só não o aplaudem publicamente com medo que acorde e interrompa a brincadeira que tem levado às nuvens banqueiros e financistas.

Hoje vale tudo. O maniqueísmo entre socialismo e democracia já não mais resiste a fatos como a China implantando um sistema capitalista tão selvagem que está comendo o fígado até de países como os Estados Unidos. E o nosso, de sobremesa. Lula inverteu a pregação feita por Geraldo Alckmin, quando este enfrentou o líder trabalhador nas urnas e saiu com o rabo entre as pernas. Alckmin pregava um ?choque de gestão?, que significava a redução da máquina estatal, a diminuição do número de ministérios, secretarias, repartições e, em conseqüência, do número de funcionários públicos. Essa máquina, em sua opinião e dos demais defensores do capitalismo liberal ou mesmo da chamada social democracia, é paquidérmica. É muito grande e demasiado pesada para que o País possa se mover para a frente, crescer, progredir. O dinheiro que se arrecada do povo e mais o que se toma emprestado aqui e alhures chega minguado nas atividades fins. É consumido no início e meio do caminho pela máquina do governo ou dos governos, pois há o federal com três cabeças (Executivo, Legislativo e Judiciário), os estaduais com iguais três cabeças e ainda os municipais, bicéfalos. Esse conjunto governamental parece uma medusa com cabelos de serpentes envenenando os sonhos de progresso e bem-estar dos brasileiros.

Mas Lula entende o contrário, embora dê ao seu pensamento o mesmo título. Para ele, ?choque de gestão? é aumentar a máquina do Estado, aumentar o número de funcionários públicos e providenciar para que ganhem cada vez mais, até que seus vencimentos se equiparem aos salários pagos pela iniciativa privada. Para os que se lhe opõem, isso não é ?choque de gestão?, mas de ?congestão?. Em discurso pronunciado no Rio, o presidente petista queixou-se da decisão do Senado, possível porque o PMDB situacionista usou sua força para mostrar que tem cartas para ganhar o jogo da disputa de cargos no governo, de rejeitar a criação da Secretaria de Planejamento a Longo Prazo, com honras e salários de ministério, reservada ao filósofo Roberto Mangabeira Unger. Com essa atitude de insurreição do PMDB, extinguiu-se não só o cargo de Unger, mas também mais de dois mil cargos de funcionários que compõem a estrutura de sua pasta, criada por medida provisória não se sabe por que e nem para quê.

Mas, no Planalto, já ficou decidido que sairá um decreto e, como se estivéssemos numa ditadura, o ministério será recriado e os cargos salvos. Parece que tudo será camuflado com outro nome que não o tal de Planejamento a Longo Prazo.

Lula disse no Rio que tem gente com a ?mania de achar? que empregar servidor público é ?inchaço?. Para ele, é preciso criar mais cargos para que o País se desenvolva. ?As pessoas passam para a sociedade uma idéia de que é possível fazer choque de gestão diminuindo o número de pessoas que trabalham, quando, na verdade, o choque de gestão será feito quando a gente contratar mais gente, mais qualificada, mais bem-remunerada, porque aí teremos também serviços de excelência prestados à sociedade brasileira. Para reverter essa situação é preciso coragem de ser ousado.? Bonito, socialista porque nos países socialistas todos os meios de produção, a burocracia, os serviços, enfim tudo é feito por repartições. Todo mundo é funcionário público. O problema é fazer funcionar essa gigantesca máquina. No mais, nomear é fácil. Habilitar o pessoal e pagar-lhe bem, mais parece recheio de discurso que meta efetiva.

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