Um importante jornal de Londres, noticiando a espetacular eleição de Lula, criticou o primeiro-ministro britânico Tony Blair. É que, quando esteve em visita ao Brasil, Blair não quis reunir-se com Lula. Diz o jornal britânico que, com isso, o chefe de governo da Grã-Bretanha comprovou a ignorância do seu governo, e, comum entre os britânicos, sobre o Brasil, segunda maior nação das Américas e uma das maiores do mundo. De outro lado, as autoridades francesas anunciaram o adiamento da tradicional reunião da cúpula franco-britânica prevista para dezembro. As relações entre Londres e Paris não andam boas em razão de uma discussão sobre política agrícola da União Européia e a crise iraquiana. Blair atacou a política de subsídios agrícolas praticada pela França e esta discorda da posição belicista do governo britânico em relação ao Iraque. Na opinião de Blair, o protecionismo francês à sua agricultura, subsidiando-a, prejudica os países em desenvolvimento. Aqui, entra também o Brasil. Temos uma clara e justificável posição contra esses subsídios.
O debate entre Blair e Chirac, que aconteceu em Bruxelas, não foi de meias palavras. Foi um bate-boca para valer. Chirac, dirigindo-se a Blair, perante outros dirigentes europeus, disse-lhe: “O senhor foi muito mal educado e nunca ninguém me falou deste modo”.
Blair criticou os subsídios depois que Chirac pediu o fim do desconto de que se beneficia a Grã-Bretanha, desde 1984, em sua participação no orçamento europeu, vantagem obtida pela primeira-ministra Margaret Thatcher. Não foi um debate entre chefes de governo nos moldes a que se está acostumado a assistir. Foi briga mesmo.
Sem dúvida, Blair está errado quando se alia a Bush, buscando uma guerra contra o Iraque. Certo quando condena os subsídios agrícolas franceses, posição que o Brasil também perfila, embora, por equívoco ou má interpretação, Lula os tenha apoiado quando visitou, há não muito tempo, Paris. Na oportunidade, em contato com o líder esquerdista e agricultor francês Bové, o então candidato a presidente defendeu a proteção dada pelo governo de Paris ao agricultores franceses. Com isso, deu motivo para ser criticado no Brasil, pois nossos agricultores e o governo FHC combatem, e com razão, essa política de subsídios dos países desenvolvidos. Ela efetivamente prejudica os países em desenvolvimento. Felizmente, Lula, agora presidente eleito, tomou clara e firme posição contra os subsídios predatórios de países como a França e os Estados Unidos.
É possível imaginar que, quando veio ao Brasil, Blair deixou de conversar com Lula pela mesma razão que o levou ao bate-boca com Chirac. A discordância sobre os subsídios agrícolas. Mas confirmou sua ignorância sobre o nosso País, pois não imaginou que Lula era um líder de tanto prestígio. Prestígio que o levou à Presidência da República. Se tivesse sido mais bem educado, Blair teria, conversando com Lula, provavelmente ajudado a esclarecer o problema dos subsídios agrícolas, ganhando um substancial apoio em sua tese contra a França e evitando que o candidato petista “pagasse um mico”, circunstancialmente defendendo uma tese dos franceses que é contrária aos interesses brasileiros. Errar é humano e Lula, responsavelmente, corrigiu seu erro.