Chegou o salvador

O mundo, há milênios e através de várias religiões e povos, sempre esperou a vinda do Salvador. Salvador porque este, não só para os cristãos, mas também para os que abraçam outros credos, é um vale de lágrimas e, seja pelo pecado original ou outro mal que devamos expiar, sofremos e auguramos que um dia aparecerá Deus ou um seu enviado para salvar-nos dos merecidos castigos. E ainda premiando-nos com algum tipo de céu, seja o Valhala, seja o dos muçulmanos ou o dos cristãos, onde chove maná e há uma paz infinita, em contraposição ao castigo do inferno ou o angustiante processo expiatório do purgatório, em que a espera deve ser a aflição mais difícil de suportar. Os judeus ainda aguardam o Salvador, pois não acreditaram num dos seus, Jesus Cristo, que para uma grande parte da humanidade é o Salvador. Já veio, expiou nossos pecados no martírio da cruz e, sentado à direita de Deus Pai, compõe com o Espírito Santo a Santíssima Trindade.

Agora, surge na política, e não nas religiões, um outro salvador. É um norte-americano chamado George Bush, eleito e reeleito presidente dos Estados Unidos. Castigos terríveis, como o atentado de 11 de setembro, com a destruição das torres gêmeas de Nova York e a perda de milhares de vidas dá à sua pregação foros de verdade. Ele não faz milagres e ainda fracassa na comprovação de grandes pecados do que considera "o eixo do mal". Mas, mesmo assim, promove guerras santas contra o Afeganistão, um país miserável dominado por uma cruel ditadura religiosa; contra o Iraque, onde teve a visão de armas nucleares e de destruição em massa através de processos químicos. Ilusão ou vidência, o fato é que o salvador Bush mandou invadir aquele país, matar as forças que o dominavam, inclusive mulheres e crianças e, heroicamente, ainda luta contra o mal que representa.

Há quem qualifique os passos belicosos de Bush como imperialistas, mas ele parece considerá-los missão divina. Agora, fala em salvar do mal de ditaduras todos os países do mundo que estiverem vivendo sob esse regime diabólico. O próximo, admite, será o Irã muçulmano dos aiatolás. E outros poderão vir, pois se trata de uma cruzada salvadora que pode não ter fim. A menos que leve a humanidade ao seu próprio fim, engolfada numa guerra mundial com armas atômicas e de destruição em massa. Daquelas que, visionário, entendia estavam nas mãos de um Saddam Hussein e estão nas mãos dos dirigentes da Coréia do Norte e do Irã.

Quem deu a Bush tal missão de salvador do mundo? Ninguém, pois, todo-poderoso, ele não precisa de conselhos nem de licença. Ele decide, pois imagina-se salvador e vai pôr o mundo em ordem, nem que tenha de destruí-lo. Estamos à mercê de um insano.

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