Com o encerramento do expediente de hoje na Polícia Federal estaria encerrada também a atuação do delegado Protógenes Queiroz como responsável pela Operação Satiagraha, que levou à prisão temporária Daniel Valente Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta e mais 14 suspeitos de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, fraudes contra a ordem pública e formação de quadrilha, entre outros itens do extenso catálogo de crimes tipificados pelos códigos brasileiros. Os presos foram logo liberados por força de habeas corpus concedidos pelo ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que permanece de plantão em Brasília enquanto durar o recesso de julho.

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Dantas, dono do Grupo Opportunity, é o mais proeminente dos acusados, graças ao notório interesse pecuniário e inserção no processo de privatização do sistema nacional de telecomunicações, dentre cujos ramos brotou a poderosa empresa privada de telefonia Brasil Telecom, com a participação societária de fundos de pensão de várias estatais brasileiras. A nova empresa passou a ser controlada pelo Grupo Opportunity, até que os dirigentes dos fundos exigiram e obtiveram a exclusão de Dantas. Na época, o banqueiro foi acusado de ter contratado os serviços profissionais da Kroll, empresa norte-americana de espionagem industrial, a fim de escutar de forma clandestina os telefones do ex-ministro Luiz Gushiken, apontado como ferrenho opositor da participação do Grupo Opportunity na gestão da Brasil Telecom e, supostamente, homem de grande influência política sobre os dirigentes dos fundos que trabalhavam pela dispensa de Dantas.

O último esforço bem-sucedido do milionário baiano, que até ser detido tinha sob sua tutela um fundo de investimentos avaliado em R$ 20 bilhões, que por esses dias vem fazendo das tripas coração para evitar a caudalosa cachoeira de saques, foi acompanhar pari passu o fechamento do negócio que resultou na fusão da Brasil Telecom com a Oi, que segundo especialistas teria rendido ao banqueiro a módica comissão de R$ 1 bilhão.

A prisão temporária de Dantas, Naji e Pitta, segundo a argumentação sustentada pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis, tinha o escopo essencial de evitar contatos entre os principais suspeitos de atuação conjunta, além da possibilidade de ocultamento e destruição de provas materiais. Durante a prisão temporária, os presos seriam interrogados pelo delegado Protógenes Queiroz, o que não ocorreu em função da soltura autorizada pelo ministro Gilmar Mendes. No primeiro interrogatório depois que deixou a prisão, instruído pelo advogado Nélio Machado, Dantas negou-se a responder as perguntas feitas pelo delegado. Nesse ínterim, um de seus assessores diretos, o foragido Humberto Braz, que estava também com mandado de prisão expedido, acabou se entregando à Polícia Federal. Sobre ele pesa a acusação da tentativa de subornar em companhia de Hugo Chicaroni, com US$ 1 milhão, um dos delegados da Satiagraha, objetivando a retirada do processo dos nomes de Dantas, da irmã e do sobrinho.

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Na continuidade, o juiz Fausto de Sanctis aceitou a denúncia formulada pelo Ministério Público contra Dantas, citado como mentor intelectual da tentativa de suborno efetuada pela dupla de emissários (Braz e Chicaroni), que vão responder juntamente com o investidor pelo crime de corrupção ativa.

A novidade mais quente sobre o caso é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou publicamente a discordância com afastamento, a pedido, do delegado Protógenes Queiroz. De fato é acreditar no imponderável que o delegado tenha decidido abandonar, sem mais nem menos, a operação que marcaria pelo resto da vida sua atuação na Polícia Federal. A desculpa de um curso de especialização em Brasília torna-se risível diante da conclusão de um processo, que alguns têm na conta de genuína bomba de nêutrons a balouçar ameaçadora sobre a República de Pindorama. O governo está obrigado a parar com a embromação e dizer logo o que está acontecendo. 

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