Encorajado por uma contundente reeleição, o presidente Hugo Chávez tem todo o capital político que precisa para conduzir a Venezuela com mais firmeza em direção ao socialismo, enquanto desafia de maneira crescente a influência norte-americana. O adversário da oposição Manuel Rosales aceitou a derrota ontem, mas prometeu continuar a se opor a um líder que ele acusa de se tornar cada vez mais autoritário.
Alardeando sua vitória em discurso para milhares, Chávez disse que os venezuelanos devem esperar uma "expansão da revolução", focada na redistribuição da riqueza do petróleo entre os pobres. "Vida longa à revolução!", gritou Chávez da sacada do palácio do governo. "A Venezuela está mostrando que um mundo novo e melhor é possível, e o estamos construindo". Com 78% dos votos apurados Chávez tinha 61%, e Rosales 38% deles. Chávez ganhou leais seguidores entre os pobres através de programas sociais multibilionários que incluem comida subsidiada, educação universitária gratuita e benefícios em dinheiro para mães solteiras.
Chávez, que afirma ver Fidel Castro como um pai, dedicou sua vitória ao líder cubano de 80 anos, e fustigou o presidente dos EUA, George W. Bush. "É outra derrota do diabo, que tenta dominar o mundo", disse Chávez à multidão de eleitores de camiseta vermelha, que o escutaram sob uma chuva torrencial. "Abaixo o imperialismo. Precisamos de um novo mundo." Mesmo antes do fechamento das urnas, os eleitores de Chávez já comemoravam nas ruas, soltando fogos de artifício, buzinando e gritando "Chávez não vai a lugar nenhum."
História
Desde sua primeira vitória em 1998, Chávez tem dominado de maneira crescente todos as instâncias governamentais, e seus aliados agora controlam o Congresso, agências estatais e o Judiciário. A atual legislação o impede de concorrer às próximas eleições presidenciais de 2012, mas ele tem planos para realizar reformas constitucionais que incluem um fim aos limites do mandato presidencial. Ao mesmo tempo, Chávez tem intensificado seu desafio aos EUA, liderando um crescente grupo de líderes americanos esquerdistas, e se aliando a inimigos dos EUA como o Irã e a Síria. Os EUA continuam sendo o principal comprador de petróleo da Venezuela, mas Chávez busca diversificar seus clientes na América Latina e até na China.
O líder da defesa de direitos civis nos EUA reverendo Jesse Jackson, que já esteve com Chávez, disse em entrevista esperar que a administração Bush aproveite a vitória de Chávez como uma oportunidade para amenizar as tensões. "Os EUA e a Venezuela precisam um do outro", disse Jackson. "Reconhecemos que hoje eles nos derrotaram", disse Rosales aos seus eleitores, em seu comitê de campanha. "Nós continuaremos nessa luta".
Rosales, um criador de gado que deve retornar agora ao seu cargo de governador do estado de Zulia, considerou a eleição como uma escolha entre a liberdade e o crescente controle do Estado sobre a vida das pessoas. Ele também denunciou a criminalidade crescente e a corrupção, vistos como os principais pontos fracos de Chávez. Muitos dos que votaram em Chávez disseram acreditar que seus programas sociais estão fazendo diferença. "Estamos aqui apoiando nosso presidente, que tanto nos ajudou", disse Domingo Izaguirre, operário que votou e cuja família recentemente se mudou para um conjunto habitacional do governo.
