Chávez denuncia ao Mercosul ser vítima de “ameaça fascista”

Apesar de cancelar sua presença na 23ª Reunião de Cúpula do Mercosul, Chile e Bolívia na última hora, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, conseguiu chamar a atenção para os riscos em torno de sua permanência no poder – o que chamou de ?ameaça fascista?. Chávez enviou aos presidentes reunidos em Brasília uma declaração especial gravada em uma fita de vídeo, que foi apresentada durante o evento. Ainda orientou os ministros que o representaram a esmiuçar a situação política delicada do país e a ameaça de um novo golpe de Estado.

Na gravação, Chávez lamentou sua ausência do encontro, mas não entrou em detalhes sobre as razões aos ?amigos, colegas e companheiros?. À imprensa, seu ministro das Relações Exteriores  general Arévalo Méndez Romero, foi mais direto. ?Quando há uma agenda golpista, de violência, o presidente não pode deixar o país?, declarou.

Chávez, entretanto, deixou uma declaração considerada mais tarde como ?simpática? por setores do Itamaraty. Chamou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de ?companheiro? e de ?pernambucano bolivariano?, defendeu uma integração mais acelerada da América do Sul e ainda pregou mudanças no modelo econômico dos países da região para permitir que escapem do ?liberalismo selvagem?. Por fim, declarou que o acordo-marco fechado hoje entre o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações (CAN) foi ?maravilhoso? e teceu elogios à liderança do presidente Fernando Henrique Cardoso.

?A América Latina avança em uma verdadeira integração. Essa é a realização do sonho de (Simon) Bolívar?, afirmou, referindo-se ao libertador da Venezuela. ?Estamos conformando um pólo de forças. Diante da proposta de integração continental (a Alca), dizemos que é preciso acelerar o processo de integração subregional?, completou.

A participação inusitada de Chávez, por meio do vídeo, deixou evidente a situação política delicada da Venezuela. Chávez enfrenta pesadas pressões da oposição, que pretende desestabilizar sua administração e forçá-lo a aceitar a antecipação de um referendo popular que decidirá sobre sua continuidade no poder. De acordo com a Constituição do país, esse plebiscito deverá acontecer apenas em agosto de 2003, o que daria tempo ao atual governo de trabalhar a opinião pública em seu favor.

As negociações entre o governo e a oposição vem sendo mediadas pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Cézar Gavíria. Entretanto, estão travadas por conta da decisão de ambos os lados de não ceder um milímetro em suas posições. O secretário-geral das Relações Exteriores do Brasil, Osmar Chohfi, afirmou que, apesar do diálogo emperrado, o governo brasileiro ainda confia na intermediação da OEA.

Em abril deste ano, Chávez foi alvo de um golpe de Estado, que fracassou dias depois e permitiu seu retorno ao poder. Desde então, vem enfrentando sucessivas greves gerais, convocadas por setores da oposição. Segundo Méndez, o motor da crise política é a reação de setores da sociedade às mudanças promovidas por Chávez no modelo econômico do país e ao fato de que, por conta do contexto internacional, os indicadores econômicos se mostrem mais negativos.

?Se eu fosse contrabandista há pelo menos cem anos e houvesse um governo querendo acabar com isso, claro que eu participaria de um golpe?, afirmou o chanceler venezuelano. Valendo-se do mesmo raciocínio, ele vinculou a turbulência ora registrada na Venezuela às decisões tomadas por Chávez de centralizar a gestão de projetos de infra-estrutura, de ajustar o orçamento público e de destinar mais recursos ao ensino público.

Apesar de terem chamado a atenção a sua causa, as autoridades venezuelanas não conseguiram obter dos vizinhos reunidos em Brasília uma declaração de apoio no documento final assinado pelos presidentes do Mercosul, do Chile e da Bolívia. O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, limitou-se a responder a uma pergunta sobre o assunto dizendo que a democracia na Venezuela ?não está em risco?. Mas referiu-se a uma possível interferência mais direta da OEA na situação do país, idéia que vem sendo discutida na organização, com apoio dos Estados Unidos.

?Há uma negociação no marco da OEA, mas ela requer a aprovocação do presidente Chávez?, afirmou.

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