É perfeitamente possível questionar a origem dos boatos ou mesmo a existência de um grupo incrustado no governo Lula, que ao dar crédito aos rumores que sopram com intensidade no planalto central, estaria pisando em ovos com a preferência atribuída à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na questão ainda longe de ser definida da indicação do candidato ungido pelo Planalto para disputar a presidência da República em 2010.
Pode-se até mesmo considerar um desatino sem precedentes os comentários feitos à boca pequena, de que o referido grupo interessado em empalmar o comando da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, colocando em plano irrelevante as figuras que até esse momento dirigem a agremiação, também estaria disposto a engendrar todos os obstáculos imagináveis a fim de causar dificuldades à evolução natural da candidatura de Dilma.
A bem da verdade, o assunto, por mais delicado que pareça, já foi abordado por bem-informados colunistas políticos de Brasília, revelando que a versão existe e circula na capital federal. Há alguns dias um importante jornal citou o nome do ministro da Justiça, Tarso Genro, como o participante mais graduado do grupo, resvalando ainda nos ministros Patrus Ananias (Ação Social) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e no governador baiano Jacques Wagner. Todos menos o primeiro correram a desmentir os boatos sobre a formação de novo campo hegemônico na governança interna do PT, assim como rotularam de devaneios extemporâneos as conversas sobre quaisquer tentativas de empanar o brilho pessoal da ministra-chefe da Casa Civil, bem como a importância de sua atuação à frente da máquina federal.
Pode ser uma coincidência fortuita, mas se não for, é certo que há alguma coisa no ar além de urubus e aviões de carreira, como diria o Barão de Itararé. O fato poderia até passar em brancas nuvens em condições normais de boa convivência entre os principais agentes do governo, dificultando a tarefa de esconder a evidência de mais um safanão no deambular cada dia mais atormentado da ministra-chefe da Casa Civil. A referência obrigatória diz respeito à acusação feita pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, a dama do charuto, de que a ministra Dilma Rousseff, em 2006, teria favorecido a Volo do Brasil na compra da VarigLog (que havia adquirido a Varig). A empresa compradora foi formada pelo investidor chinês Lap Chan, com parte dos recursos liberada pelo fundo norte-americano Matlin Patterson. As declarações de Denise foram primeiramente publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo a ex-diretora da Anac os quatro principais diretores da agência foram convocados para uma reunião na sala da chefia da Casa Civil, versando a agenda sobre a viabilização da venda da VarigLog, porquanto o governo via na operação a alternativa mais adequada para evitar a paralisação da tradicional companhia de aviação civil. Sabe-se que o advogado Roberto Teixeira, ligado ao presidente Lula desde os tempos do ABC, prestou assessoria jurídica à Volo do Brasil, empresa que assumiu o controle da VarigLog.
O governo, em bloco, negou quaisquer favorecimentos ao negócio e seus porta-vozes no Congresso trataram de desqualificar o depoimento de Denise Abreu, debitando-o à forma desgastante com que foi induzida a se afastar da agência. O secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), acentuou que ?denúncias de pessoas ressentidas com o governo ou com pessoas do governo não devem ser levadas em conta?.
Líderes da oposição pensam de outra maneira e pretendem convocar os citados no imbróglio para trazer esclarecimentos ao Congresso. O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), afirmou que agentes do governo foram utilizados no encaminhamento de soluções para assuntos privados. Aliás, uma prática não inventada pelo governo atual.