O Brasil quebra seguidos recordes do aziago superávit primário, que explicado de outra forma representa a economia feita pelo governo federal, estados e empresas estatais, para conseguir o dinheiro do pagamento dos juros da dívida pública.
Para gáudio da nação brasileira, o montante dessa dívida está beirando R$ 1 trilhão, importância para mortal algum botar defeito, além de fazer o País assomar definitivamente o rol dos maiores devedores do sistema solar.
Todavia, nem todos os motivos são para lamentar. Em 2005, apesar das intensas reclamações em função do péssimo estado das rodovias, portos, hospitais e escolas públicas, de pessoas sendo tratadas como seres inferiores nas filas do INSS e mais de sete milhões de famílias vivendo o inominável drama da falta de moradia digna, o País economizou R$ 93,505 bilhões.
As autoridades econômicas festejaram a superação da meta estabelecida anteriormente para o superávit primário, que dos estimados 4,25% do PIB pulou para elogiáveis 4,84%, carreando mais R$ 10,7 bilhões para abater parte da formidável dívida que não pára de crescer.
O ministro Antônio Palocci, guarda pretoriano do dinheiro público, que ameaça fulminar o incauto que se aproxime com o chapéu na mão, é a figura mais reverenciada do governo central.
Mesmo assim a economia na marra só produziu pouco mais da metade dos R$ 157,145 bilhões (8,13% do PIB) que o Brasil devia pagar de juros da dívida pública em 2005. Com o superávit de R$ 93,505 bilhões ainda estavam faltando R$ 63,641 bilhões, sendo o saldo tirado do Tesouro ou, na hipótese mais aceita, acrescido ao principal.
Nos dois últimos anos o superávit primário somou impressionantes R$ 174,616 bilhões. Todavia, para desnudar a catástrofe financeira basta lembrar que o valor apurado, em detrimento do avanço dos projetos sociais, superou em apenas R$ 17,471 bilhões o valor dos juros de 2005!
O governo trabalha literalmente para pagar os juros de uma dívida perversa e incontrolável, de origem altamente duvidosa, exigindo um penoso sacrifício de milhões de brasileiros escravizados por um dos mais infames quadros de penúria conhecidos no mundo atual.