Chantagem e calote

O ?empresário? mineiro Marcos Valério era o instrumento do PT ou, como pretendem ex e atuais dirigentes do partido, instrumento do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para levantar dinheiro. Recursos para pagar despesas do partido, campanhas eleitorais, campanhas de aliados e, segundo se suspeita com base em denúncias do deputado petebista Roberto Jefferson, para pagar mensalões.

Aí surge de parte do PT uma defesa pífia em relação aos empréstimos que Valério levantou no sistema bancário para o partido, alguns com aval até do então presidente José Genoino. As dívidas seriam de Delúbio, o tesoureiro, e não da agremiação, quando é sabido que o tesoureiro já afastado do PT não tinha crédito para tanto. O total das dívidas seria, segundo Valério, de R$ 93 milhões. Como o PT não tem esse dinheiro, a nova direção que assumiu provisoriamente o diretório nacional, encimada pelo ministro da Educação, Tarso Genro, fala em honrar apenas os empréstimos em que nos documentos bancários está expressa a responsabilidade do partido. O resto, que Delúbio se vire ou Marcos Valério engula o calote.

Essa história está mal contada, até a dos empréstimos firmados com assinatura dos dirigentes máximos do PT, pois não se entende que um publicitário de Belo Horizonte seja tão simpático e bonzinho que ande por aí a convencer bancos de emprestar-lhe dinheiro para dar ao PT, sem que espere nada em troca. Ou espere em troca, segundo foi declarado, apenas as contas publicitárias do PT. Se o partido estava em situação financeira tão difícil que precisava de empréstimos bancários e de um intermediário estranho que nem filiado à agremiação é, o que motivaria Marcos Valério a tanta benemerência? Com certeza esperava direta ou indiretamente ganhar dinheiro e receber o dinheiro que arrancou dos bancos. Esperava, como parece claro, que o PT lhe arranjasse grandes contratos com o governo e as estatais, para que faturasse alto, de forma a compensar os riscos financeiros que passou a correr.

Se no PT o tesoureiro Delúbio fazia e desfazia, sem ter de dar satisfações à cúpula partidária, e o presidente Lula e seu ministério de nada sabiam, isso seria uma prática da agremiação, absurda, mas confessa. Assim, não há como negar a responsabilidade do PT e é difícil esconder a responsabilidade do governo. Tanto mais que Marcos Valério declara que tem documentos comprobatórios dos empréstimos.

Ele quer o dinheiro de volta. O dinheiro dos bancos, pois por estes será cobrado. Não admite o calote anunciado pelo PT e ameaça embarcar para Brasília com uma ou muitas malas de documentos, entregando todo mundo. Todos os que, do PT e do governo ou a este aliados, receberam dinheiro para campanhas ou ganharam mensalões.

Há males que vêm para o bem e até seria bom que o calote persistisse e o publicitário pusesse a boca no trombone. Seriam revelados os nomes de todos os que entraram nas maracutaias e o mundo não iria cair. Cairia, sim, o conceito de partidos situacionistas e talvez o próprio governo.

Como defesa, os petistas acusam Marcos Valério de estar tentando chantagear o PT e o governo, pedindo R$ 200 milhões e imunidades, para que não seja preso. Se há chantagem é porque existem argumentos para fazê-la. Não se pode aprovar chantagem, mas muito menos que o governo e o PT cometam pecados tão graves que possam ser vítimas desse crime.

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