Chaga previsível

Uma chaga social previsível há pelo menos duas décadas recobre com um manto de vergonha e opróbrio as políticas públicas – se é que houve alguma – destinadas a prevenir mediante campanhas elaboradas com a necessária orientação médico-psicológica, ademais do bom senso, o uso indiscriminado de substâncias entorpecentes.

Por outro lado, a sensação de impotência enlaça com a mesma intensidade o setor aparelhado pelo Estado para proteger a cidadania, ou seja, as forças regulares mantidas pelos governos federal e estaduais, com a missão constitucional de combater a criminalidade.

Haverá sempre, em contrapartida, os que procuram argumentar com o estágio de sofisticação e abrangência atingido pelo chamado crime organizado que opera através de redes internacionais, apoiadas na permissividade abusiva de magistrados, políticos e policiais corrompidos pelo ganho ilícito.

Não pode haver desculpa aceitável quando se trata do avanço do tráfico e consumo de drogas, sobretudo ao se constatar que a mesma patologia social está sendo revertida em muitos países.

O relatório anual do Escritório das Nações Unidas (ONU) contra Drogas e Crimes, divulgado na última terça-feira, exibe o cenário realista do consumo de drogas pesadas no Brasil, hábito hoje praticado por 860 mil pessoas. Além disso, o imenso território do País foi transformado na rota preferida do tráfico internacional de cocaína para os países europeus, via Suriname, Guiné-Bissau, Angola e África do Sul.

Antes, a droga era transportada diretamente da Colômbia, mas o reforço do esquema de vigilância e combate ao crime organizado levou os principais cartéis a procurar melhores condições de operação. E o Brasil passou a oferecer a alternativa mais viável para um comércio mundial que movimenta algo em torno de US$ 320 bilhões por ano.

Basta esse pormenor para desnudar a ineficiência policial na coibição do tráfico. Mesmo com as periódicas apreensões realizadas pela Polícia Federal, em 2005 o Brasil conseguiu tirar de circulação apenas 2% das 756 toneladas de cocaína apreendidas no mundo.

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