Cesta básica da cidadania

O ministro Antônio Palocci anunciou, depois de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o governo brasileiro não terá necessidade de renovar o contrato com o Fundo Monetário Internacional (FMI), vigente desde 2002. A principal razão é o bom desempenho da economia, além da perspectiva de estabilidade e crescimento contínuo num ambiente favorável.

O contrato do governo com o FMI vence amanhã, mas diante de condições tão seguras dos fatores econômicos, desta vez o País respeitosamente abre mão da histórica dependência da instituição internacional.

Segundo informou o ministro da Fazenda, em quinze meses o Brasil não efetuou nenhum saque do montante de US$ 41 bilhões previstos no atual contrato. Desde 2002, os saques se limitaram a US$ 26,3 bilhões, com a finalidade precípua de recompor as reservas internacionais.

A posição do governo brasileiro foi recebida com otimismo mundo afora, sobretudo nos mercados mais importantes, que nos vêem como exemplo a ser seguido por países em desenvolvimento, e um parceiro com gigantesco potencial para acordos comerciais bilaterais.

A voz mais relevante a reconhecer o acerto da medida tomada pelo governo Lula ouviu-se em Washington, na apreciação feita pelo secretário do Tesouro norte-americano, John Snow. Chefes de governo e ministros das economias mais avançadas do mundo congratularam-se com o avanço obtido pelo governo Lula, embora todos nós devamos reconhecer que ainda há um longo caminho a percorrer.

Palocci disse, ainda, que a decisão de não renovar o contrato com o FMI vinha sendo amadurecida nos últimos meses, na medida da evolução de rigorosa monitoração e acompanhamento das reações da economia em sua complexidade. Assim, o ministro tranqüiliza a sociedade e, em primeiro lugar, os responsáveis diretos pelo mecanismo que movimenta a máquina produtiva do País, ao revelar uma posição apoiada na constatação de uma realidade plausível.

A julgar pelo estilo de administração praticado pelo ministro Antônio Palocci, homem de natureza reservada e pouco suscetível às declarações de efeito midiático, a sociedade deve encarar com confiança a determinação oficial não derivada de um ato impensado.

O ministro terá razões abundantes para assegurar que nem mesmo o ano eleitoral que se avizinha será capaz de causar turbulências no benfazejo horizonte econômico nacional. A meta de 4,25% de crescimento do superávit primário é plenamente realizável, segundo Palocci.

Afinal, a informação transmitida pelo ministro da Fazenda a uma nação desgastada ao infinito pelo pesado ônus do desequilíbrio econômico e social, chega num momento de perplexidade diante de mais uma exibição do apetite voraz do fisco, consubstanciado na Medida Provisória 232. A tônica dos últimos governos tem sido a inclemência da máquina de arrecadação, centrífuga que depena a renda média dos brasileiros na iníqua proporção de quase 40% do Produto Interno Bruto. A maior carga tributária do planeta.

O sacrifício até agora feito pelo povo chegou a um limite explosivo, e o governo está ciente da gravidade do fato. A boa-nova anunciada pelo ministro, contudo, não é suficiente. Outras providências urgentes devem ser anunciadas de imediato para recuperar a esperança – para muitos extinta – de ver o País se desenvolver repartindo renda e alargando o espectro da justiça social.

Empregos com salário digno, hospitais, assistência médica, moradia, universidades, escolas, segurança, boas estradas e oportunidades para empreender são itens da cesta básica da cidadania, sem a qual não se vai a lugar nenhum. Ou pior, chega-se mais rapidamente à convulsão. Se o governo Lula não trabalhar com essa viseira, perderá o seu tempo e não fará história. 

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