Quase dez anos após o último registro de peste em humanos no Nordeste, um diagnóstico positivo colocou as autoridades em alerta na região. Uma equipe do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, confirmou a existência de anticorpos para a bactéria Yersinia pestis em um paciente do sexo masculino morador de Pedra Branca, município do interior do Ceará.
A doença contagiosa, que fez milhares de vítimas por toda a Europa durante a Idade Média, pode se manifestar de três formas: a pneumônica, a septicêmica e a bubônica. A forma que ataca o pulmão pode ser transmitida por contato direto entre pessoas.
Os sintomas são inflamação dos gânglios linfáticos, dor de cabeça, sonolência, intolerância à luz, apatia, vertigem, dores nos membros e nas costas, febre alta e delírios. A doença pode matar e é combatida com antibióticos.
O caso de Pernambuco foi detectado em fevereiro, durante uma operação de reforço da Vigilância Sanitária que, há mais de um ano, vem identificando a contaminação de cães e gatos em áreas no Ceará (Baturité e Ipu) e Pernambuco (Exu e Triunfo). Segundo a bióloga Marise Sobreira, do Departamento de Microbiologia Aggeu Magalhães, referência nacional na área, a doença, que é endêmica entre os roedores silvestres, torna-se mais preocupante quando surge nos animais.
"Cães e gatos com anticorpos para a peste é um sinal de que a bactéria está circulando na região", explica. De acordo com a especialista, em geral eles são contaminados por pulgas de roedores doentes. As ações de vigilância sanitária, feitas rotineiramente, por meio da captura de pulgas e roedores para exames sorológicos e pesquisas, são fundamentais para evitar um maior número de casos. "Precisamos ter todo o cuidado, pois a contaminação também pode ocorrer homem a homem", diz.
No Brasil, de acordo com a bióloga, há duas áreas de foco de peste: a Serra dos Órgãos (nos limites entre os municípios fluminenses de Teresópolis, Sumidouro e Nova Friburgo) e o chamado Polígono da Seca, que vai do Ceará até o Norte de Minas Gerais, atingindo as serras de Ibiapaba e de Baturité (CE) e do Triunfo (PB, PE), as chapadas do Araripe (CE, PE, PI), Borborema (RN, PE, PB, AL) e Diamantina (MG) e o Planalto Oriental (BA).
De acordo com Marise, a doença ocorre, principalmente, em áreas rurais, onde há armazenagem de grãos dentro das casas, atraindo roedores. E pode se manifestar de três formas: a pneumônica, a septicêmica e a bubônica, sendo que a primeira mais contagiosa, pois é transmitida por meio de secreção oral e nasal.
No caso do paciente do Ceará, o tipo não foi identificado, diz a bióloga, chamando atenção para o fato de a peste ser uma doença reemergente, assim como o cólera e o dengue. "Ela entrou no Brasil há mais de 100 anos, pelo porto de Santos, e fez muitas vítimas. Quando se instalou nos roedores ficou difícil de controlar. É um problema que atinge, principalmente, pessoas que moram em condições precárias", observa, destacando a importância de ações de desratização, como forma de evitar a disseminação do veículo transmissor.