É constrangedor o quadro de descompasso verificado hoje entre as três instâncias máximas de poder no Brasil. Executivo, Legislativo e Judiciário mostram, em público, desavenças incômodas quanto a pontos de vista sobre a condução de um processo político que, acima de tudo, reclama radical depuração.

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O item a que nos referimos é o imbróglio causado pelo processo de cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), cujo ápice deu-se com a pedagógica derrota infligida ao todo-poderoso articulador do governo Lula pelo STF, cujos ministros desconheceram de maneira olímpica o esforço desabrido em contrário feito pelo presidente Nelson Jobim.

Na verdade, o Executivo esperava obter do Judiciário a suspensão do inquietante processo, sobretudo, a partir do escorreito parecer do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), no Conselho de Ética e Decoro da Câmara, justificando o pedido de cassação do mandato.

A última manobra a deslustrar a história da Casa e a própria honorabilidade do presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi a anulação de parte da sessão do conselho e, pari passu, o adiamento do julgamento propriamente dito para a próxima terça-feira.

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Manobra unicamente destinada a dar um pouco mais de tempo à tentativa casuística de salvar o personagem que se arroga participação decisiva na história política brasileira e na vitória eleitoral de Lula, mas parece ter sepultado toda essa vocação para o comando, ao alegar que nada viu, ouviu ou soube dos malfeitos do insolente ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Tornou-se questão de honra para o Conselho de Ética esgotar sua competência e levar o processo de cassação do mandato de José Dirceu ao plenário da Câmara, embora aí já se prenuncie a seqüência de artifícios regimentais à disposição do presidente Aldo Rebelo para retardar a inclusão do processo na pauta de votações. Cavila-se que o presidente somente encaixe a matéria na pauta duma sessão de baixo quorum para, quem sabe, salvar o ex-camarada de armas.

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Como o elefante que começa a morrer meses antes do momento final, o deputado José Dirceu exibe a garra característica dos que, conscientes da aproximação do fim, tencionam deixar a marca de sua resistência. Nesse ponto, faz jus ao duro aprendizado que o levou a ocupar posição relevante na vanguarda política do País.

Lamenta-se que o fecho duma vida dedicada à política, naquilo que ela tem de superior e de interesse da maioria, venha pela humilhação da perda dos ideais de trabalhar para fazer do Brasil um Estado aberto às possibilidades democráticas.