?Não estão todos os que são. Nem são todos os que estão.?
Esta frase consta de uma placa à porta de um hospício espanhol da Catalunha e bem lembra um romance de Machado de Assis, ?O Alienista?, em que o escritor brasileiro fala de um psiquiatra que acaba descobrindo algo de louco em cada pessoa que vinha a conhecer. E foi submetendo a tratamentos, reclusos, todos eles. Acabou sozinho e, ao final, trancou-se no hospício e soltou todo mundo.
No Congresso Nacional nem todos os que lá estão são corruptos. Nem todos os corruptos lá estão. E ao alienista parece-se Roberto Jefferson, que, ao final das contas, poderia ser o único insano comprovadamente verdadeiro, já que, denunciado por maracutaias claras e confessas, disparou sua metralhadora giratória e acabou atingindo um sem-número de políticos, muitos deles até aqui considerados se não santos, pelo menos beatos.
Não são poucos os corruptos na política brasileira, a ponto de levar o povo a pensar que tal atividade, a de homem público, é excelente para gente que queira ganhar dinheiro fácil. Basta não ter escrúpulos, qualidade difícil de guardar e nada difícil de abandonar. De vez em quando parece à maioria das pessoas que há pecados que, postos como espertezas, não praticá-los significa burrice.
Acaba de sair a primeira lista de cassáveis. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB), um paranaense que vem atuando de forma a honrar o cargo e o nosso Estado, divulgou a lista oficial de deputados citados durante as investigações e que podem ser cassados por quebra de decoro parlamentar. Nessa lista estão apenas nomes citados por Roberto Jefferson nos depoimentos às CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos e ao Conselho de Ética da Câmara. Apesar do zelo do parlamentar paranaense e do mau cheiro que as denúncias, depoimentos e investigações exalam, pouca prova existe contra esses dezoito deputados. Com certeza, não são os únicos corruptos e dificilmente será provado que todos eles corruptos são.
Na lista estão parlamentares do PT, PL, PMDB, PP, PTB e um do PFL, o único que não pertence à chamada base político-parlamentar de Lula. Foram poupados os do PSDB de Minas Gerais, embora lá também, no passado, o financiamento irregular de campanhas eleitorais aconteceu e beneficiou peessedebistas, porque tal não foi considerado irrelevante pelo presidente da comissão. Seria uma manobra diversionista. Algo como dizer: ?Sou, mas quem não é??.
Os que têm esperanças de que todos esses deputados sejam de fato cassados, e aí estão a maioria do povo brasileiro e os políticos honestos, que tirem o cavalo da chuva. A maior malandragem está em fazer maracutaias que não possam ser provadas. E não pode ser provada a maior parte das negociatas feitas por esses deputados. E por outros que nem constam da lista.
Em derradeiro, o que o Brasil precisa, além de pôr na cadeia algumas dúzias de descarados, é de instituições que previnam o crime. Que ponham os malandros numa camisa-de-força, dificultando seu ingresso na política e tornando difícil que roubem o povo. As instituições têm de ser feitas para garantir a honestidade dos homens públicos, pois malandros, ora mais, ora menos, sempre os teremos.