Caso da sogra

O governador do Ceará, Cid Gomes, filiado ao PSB como seu irmão e provável candidato à Presidência da República Ciro Gomes, gosta de viajar pelo Brasil e pelo mundo em jatinhos alugados, levando consigo secretários de Estado, outros auxiliares e também suas esposas. E própria esposa. Na viagem que fez à Europa, durante o Carnaval, levou também a sogra. A esposa do governador tem apenas 27 anos (ele tem 45) e a sogra, uma destacada ?socialité?, tem apenas 50 anos de idade e, segundo Cid, viajou porque ele, nessas sortidas por vários países, trabalha muito e tem pouco tempo para fazer companhia à própria mulher.

O caso da sogra virou escândalo agora, quando estourou na Assembléia Legislativa cearense e na imprensa nacional, após o regresso do governador ?passeador? de uma viagem por vários países da Ásia, com as mesmas mordomias que fazem pensar esteja o político cearense convencido de que isto aqui é a ?casa da sogra?. ?Essa questão não é ilegal, não é imoral, não há norma que discipline isso?, afirmou Cid em entrevista que concedeu na Assembléia Legislativa cearense.

A ida à Assembléia na manhã do último dia 28 foi o primeiro compromisso público de Cid Gomes desde a divulgação da lista de passageiros que o acompanhou a cinco países da Europa, entre 30 de janeiro e 9 de fevereiro. Até sábado passado ele estava em viagem pela Ásia.

Para a Europa, o governador voou num jatinho alugado que custou ao Estado do Ceará R$ 388.596,00. Foi acompanhado de auxiliares e da sogra, Pauline Carol Habi Moura, a primeira-dama, Maria Célia, um secretário de Estado, um assessor e suas respectivas mulheres.

A programação no exterior, que seria de serviço, com comparecimento a feiras, reuniões e eventos de interesse comercial e turístico, por mais boa vontade que se tenha, leva a imaginar uma viagem de privilegiados passeios. Daquelas que muito cearense nunca fez e nunca fará e alguns raros brasileiros conseguem realizar no máximo uma vez na vida. E em jatos de carreira, nunca em aviões fretados e ainda por conta do governo.

O governador cearense não admitiu que tenha agido de forma errada, mas mesmo assim pediu desculpas ao povo cearense e levou um puxão de orelhas do irmão candidato Ciro Gomes, que disse entender que Cid deve prestar contas da mordomia que gozou e promoveu.

O governador ?passeador? considerou que o problema maior foi o tom de ?deboche? que o acontecido ganhou na opinião pública e na imprensa. ?A sogra é inspiração para muitas piadas. Então, ficou uma coisa de deboche e, naturalmente, eu não me sinto bem, fico constrangido de ver meu governo, que eu tenho a honra e o privilégio de liderar, ser motivo de deboche?, declarou.

Em sua defesa, Cid Gomes argumenta que as despesas das esposas e da sogra não foram pagas com dinheiro público e que o fretamento do avião tem preço calculado em quilômetros voados e não em número de passageiros.

Na opinião do chefe do Executivo cearense, o caso ganhou uma ?atenção desproporcional?, já que a prática de usar veículos públicos para dar caronas é comum no Brasil. ?Por diversas vezes eu presenciei pessoas estranhas ao governo andarem em equipamentos oficiais, no Ceará e fora do Ceará?, afirmou. Verdade, mas lamentável por se tratar de viagem de duvidosa necessidade, realizada com todas as mordomias para as autoridades e seus convidados, todos parentes. Viagem que, se efetivamente necessária, seria feita com discrição, em aviões de carreira, sem um roteiro tão turístico como o percorrido. E considerando-se que levou um grupo de autoridades cearenses, o tom de ?deboche? se justifica. Mas no sentido contrário: o passeio é que foi deboche contra o povo que habita um dos estados onde se verifica grande pobreza e a boa parte da população viaja a pé ou de jegue. As mordomias gozadas pelas autoridades são um deboche e revoltantes.

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