Caso Carajás mudou PM e fortaleceu MST

A Polícia Militar do Pará mudou de comportamento após o episódio de Eldorado dos Carajás, quando 19 sem-terra foram mortos, em abril de 1996 e 69 pessoas saíram feridas, afirmou hoje o cientista político Raul Navegantes. "A PM está mais cautelosa, agindo com prudência. Os oficiais agem dessa maneira, mas a tropa e os escalões mais baixos da corporação também precisam agir assim", diz Navegantes, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade da Amazônia (Unama).

"Acredito até que o MST adquiriu uma força maior depois de Eldorado dos Carajás. É que a PM, não apenas a do Pará, mas a de todo o Brasil, passou a ter uma lembrança do episódio. É uma lembrança que todo ano é reconstituída nas marchas e manifestações por todo o País."

Trauma

Para Navegantes, as mortes dos sem-terra provocaram um trauma na corporação. A própria PM admite ter cometido um "erro brutal, que hoje tenta não repetir". Segundo o cientista, Eldorado dos Carajás é um marco simbólico, emblemático, por causa da truculência. "Só as palavras Eldorado dos Carajás dentro da PM têm um significado singular, porque sinaliza para aquele episódio".

Na avaliação do cientista, hoje a PM adota um comportamento mais adequado. Há um certo receio, até excessivo, no modo de agir. A prudência, nesse caso, se faz necessária, sobretudo quando se trata de intervenção em caso de movimento social. "Em certos momentos, a gente percebe que esta situação já passou de um certo limite."

Perguntado como a PM deveria agir em novos casos de bloqueio de estradas e hostilidade à tropa pelo MST, Navegantes responde que a prudência é o comportamento mais adequado. A PM deve preparar seus efetivos, sobretudo os menos qualificados, para que eles tenham esta sensibilidade. "O oficialato não tem dúvida nenhuma, está bem consciente dessa necessidade de prudência, de comedimento, durante uma intervenção armada. Nesse nível, não tenho do que recear. A mesma prudência precisa ser passada para o corpo da tropa e para os escalões mais baixos, sobretudo para os mais jovens."

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