Já em sintonia com as pesquisas de opinião que apontavam a vitória do "não" no referendo sobre comércio de armas e munição, a governadora do Rio, Rosinha Garotinho (PMDB), e seu marido, o secretário estadual de Governo e Coordenação, Anthony Garotinho, que fizeram campanha pelo "sim", atacaram, neste domingo, o governo federal por sua postura sobre o desarmamento.
Em entrevistas após votarem no referendo, os dois acusaram o Executivo de, ao propor a consulta, ter passado à população uma responsabilidade que era apenas dele. A iniciativa de levar a questão a votação de todo o eleitorado, contudo, foi do Congresso Nacional, ao aprovar o Estatuto do Desarmamento.
"O governo tinha que tomar uma posição, mas é mais fácil jogar sobre o povo", disse Garotinho. "Com medo de tomar uma decisão, o governo resolveu ver o que o povo acha", concordou Rosinha. Os dois votaram de manhã em Campos, região Norte-Fluminense, reduto político do casal, e, apesar das críticas, disseram que não mudariam seus votos.
Quando o "sim" ainda estava na frente, Rosinha aderiu publicamente à sua campanha, tendo participado até do ato "Brasil: Desarmamento Sim", na Lagoa Rodrigo de Freitas, no início do mês. Garotinho também se manifestou a favor da proibição.
Durante as entrevistas, sobraram ataques para as campanhas dos dois lados. Para Rosinha, a campanha do "não" foi "sensacionalista" e "enganou as pessoas" ao apresentar dados sobre violência que não correspondem à realidade. Quando declarou seu voto, a governadora apresentou um estudo apontando que 75% das armas apreendidas com criminosos pela polícia foram compradas no mercado formal e pertenciam a "cidadãos do bem".
O dado, porém, foi contestado pela campanha do "não", sob a alegação de que a amostra pesquisada – cerca de 87 mil armas – era muito pequena em relação ao número de armas legalizadas no País. "Ter uma arma não vai trazer nenhum tipo de segurança a ninguém", ressaltou a governadora, que perdeu um irmão assasinado por arma de fogo há 21 anos.
Já Garotinho voltou suas baterias contra a campanha do "sim", que, segundo ele, pecou ao não informar à população que a proibição da venda de armas é apenas uma entre diversas medidas contra a violência. "Entendo que precisamos tomar uma série de medidas contra a violência e uma delas é o desarmamento. Mas é apenas o primeiro passo", afirmou o secretário.
Garotinho lembrou que, ainda em 1999, quando era governador, enviou ao então presidente Fernando Henrique Cardoso um pacote de sugestões com 40 medidas para a área de segurança pública. Mudança em leis, melhor controle de fronteiras e monitoramento da Amazônia estão entre as medidas propostas. "O assunto tinha que ter sido tratado de forma racional, mas foi feito de forma irracional", avaliou.