O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzales, reconheceu nesta terça-feira (13) que a Casa Branca está envolvida na demissão de oito procuradores públicos, em dezembro do ano passado. Em entrevista coletiva, ele disse que tentaria descobrir por que o Congresso não havia sido informado antes do envolvimento do governo nas demissões. "Reconheço que houve erro e assumo a responsabilidade", afirmou Gonzales.
Desde que os promotores foram dispensados sem explicações, surgiram rumores, nunca comprovados, de que as demissões teriam tido motivação política. A maioria dos demitidos investigava casos de corrupção envolvendo o governo federal e fraudes eleitorais supostamente cometidas pelos democratas. Desde então, vários outros promotores públicos vinham se queixando de ameaças e pressões de legisladores republicanos, principalmente para acelerar os inquéritos contra os democratas. Tentando dar uma explicação razoável, o Departamento de Justiça disse reiteradas vezes que as demissões eram rotina. Ninguém engoliu a cartada, já que pelo menos sete dos oito demitidos tinham conduta impecável. O Congresso resolveu investigar.
Hoje, as investigações chegaram a Kyle Sampson, principal assessor de Gonzales e responsável direto pelas demissões. Ele admitiu que havia omitido informações ao Congresso e pediu demissão, prontamente aceita pelo secretário de Justiça. Apesar de ter reconhecido o erro e das pressões de congressistas democratas, Gonzales disse que não renuncia.
E-mails e outros documentos internos do Departamento de Justiça revelaram que a Casa Branca tinha intenção de intervir no Judiciário. Segundo essas informações divulgadas hoje por vários jornais americanos, em fevereiro de 2005, Karl Rover, o principal conselheiro do presidente George W. Bush, sugeriu uma lista de demissão com o nome de 93 promotores, dos quais Gonzales teria escolhido oito.
A Casa Branca, através de um porta-voz, admitiu que o próprio presidente Bush havia se queixado a Gonzales que muitos promotores não estavam se empenhando suficientemente em casos de fraudes eleitorais envolvendo democratas. Um mês depois, começaram as demissões. Em fevereiro, um relatório encomendado pelo Congresso americano mostrou que, desde 1981, de 486 promotores, 54 pediram demissão e apenas três foram demitidos dessa maneira.