O Greenpeace está denunciando a chegada à França do primeiro carregamento de soja transgênica enviada pelo Porto Paranaguá. No último domingo (14), mais de dez ativistas franceses foram ao Porto de Brest, na região da Bretanha, protestar contra o descarregamento. A carga de 8 mil toneladas do navio Tonga saiu do Paraná no dia 27 de abril.
Apesar de ter chegado ao porto de Brest no domingo, o navio Tonga não atracou e, na manhã seguinte, foi direto para o entreposto da Cargill, responsável pela carga. Enquanto isso, a coalizão ?Bretanha sem Transgênicos? deu uma coletiva de imprensa no local e pediu uma audiência com a empresa e com as autoridades portuárias, mas não foi atendida.
?Depois de tantas batalhas jurídicas lideradas pela Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), que representa os interesses de grandes multinacionais do agronegócio, o governo brasileiro e a justiça falharam em exigir do Porto de Paranaguá a opção pela liberação dos transgênicos?, disse Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace.
?O fato mais emblemático é que o primeiro carregamento transgênico de Paranaguá seja justamente da Cargill, que tem um papel fundamental na destruição da Amazônia. Isso só confirma que essa empresa não possui qualquer comprometimento com o meio ambiente?, completou.
A Cargill é uma multinacional norte-amerciana que comercializa grãos internacionalmente e produz, entre outros itens, ração animal. Recentemente, o Greenpeace denunciou a participação da empresa na produção de soja no bioma amazônico, fomentando, conseqüentemente, o desmatamento da região.
Dos 23 silos para armazenamento de soja localizados no bioma amazônico, 13 são da Cargill. Além disso, a empresa também construiu um porto graneleiro de US$ 20 milhões em Santarém sem realizar os estudos prévios de impacto ambiental determinados pela Constituição Federal, ignorando os protestos da comunidade local e enfrentando o Ministério Público Federal numa batalha jurídica que ainda não terminou.
A batalha judicial envolvendo o embarque de transgênicos no Porto de Paranaguá começou no dia 28 de março, quando uma liminar foi concedida à ABTP determinando o embarque da soja transgênica no porto. A liminar foi concedida pela juíza federal de Paranaguá (PR), Ana Beatriz Vieira da Luz Palumbo. A Procuradoria-Geral do Estado, por determinação do governador Roberto Requião, está recorrendo.
A Bretanha, onde chegou o carregamento do Tonga, é uma região livre de transgênicos desde 2004, quando o Conselho Regional da Bretanha adotou uma resolução que favorece as medidas concretas para evitar a utilização de organismos geneticamente modificados. A iniciativa da Bretanha foi pioneira entre as 172 regiões européias que se declaram livres de transgênicos.
Em setembro de 2004, decididos a diminuir progressivamente as importações de transgênicos destinadas à alimentação animal, representantes da região da Bretanha visitaram o Porto de Paranaguá para garantir o fornecimento de soja convencional. A comitiva francesa aprovou o controle realizado pelo estado para garantir a produção e comercialização convencional e recomendou os produtos da região para 25 associações de produtores rurais da Europa.