Se fosse eleito, não somente seria o primeiro papa latino-americano, mas também o primeiro Sumo Pontífice de origens jesuíticas a ocupar o trono de São Pedro. Ele é Jorge Bergoglio, primaz da Argentina, cardeal de Buenos Aires, indicado pela influente revista italiana L?Espresso como o mais provável sucessor de João Paulo II.
Segundo L?Espresso, se o conclave de cardeais para escolher um papa fosse realizado hoje, o argentino Bergoglio teria “uma avalanche de votos”.
No entanto, em Buenos Aires, o cardeal preferiu manter-se em silêncio, e ignorou o entusiasmo gerado no país pela perspectiva de que o próximo papa poderia ser argentino. O porta-voz do cardeal, o padre Guillermo Marcó, afirmou que Bergoglio sentiu-se “incomodado” pelas afirmações de L?Espresso. “Não é oportuno nem prudente falar sobre essas coisas enquanto o papa está vivo.”
O autor do artigo, o “vaticanólogo” Sandro Magister, afirma que algumas qualidades de Bergoglio, tais como seu law profile, é que o fazem ser indicado: “Tímido, esquivo, de poucas palavras, Bergoglio não faz campanha de forma alguma. Mas este, justamente, é considerado um de seus grandes méritos”.
Bergoglio teria o respaldo de altos assessores do papa em Roma, como o cardeal Camillo Ruini e o influente cardeal alemão Joseph Ratzinger, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, recentemente designado decano do colegiado de cardeais.
Mas, apesar de falar pouco, quando abre a boca Bergoglio costuma não ter papas na língua. Ao longo do último ano, foi um dos principais críticos da política econômica do governo do presidente Eduardo Duhalde. O cardeal costuma alertar para os setores da população argentina que passam fome, e mantém posições “duras” em relação às negociações do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Bergoglio, de 66 anos, é considerado um outsider da cúpula eclesiástica argentina. Durante a última ditadura militar (1976-83), encarregou-se de salvar sua ordem na Argentina que, da mesma forma que o país, enfrentava profundas divergências ideológicas em suas fileiras. No entanto, para poder eliminar os conflitos, acabou apagando dos jesuítas argentinos qualquer vestígio da Teologia da Libertação.
Depois, sumiu do cenário, ficando na penumbra. Há dez anos era um simples padre jesuíta na província de Córdoba.
Posteriormente, foi “apadrinhado” pelo cardeal de Buenos Aires, Antonio Quarracino, um dos expoentes da extrema-direita da Igreja argentina, que o designou como seu bispo auxiliar. No entanto, manteve sempre distância das posições políticas de Quarracino. Bergoglio possui boas relações tanto com a direita como com a esquerda.
Austero, não mora na residência do Arcebispado de Buenos Aires, pois prefere um modesto quarto na Cúria portenha, ao lado da Catedral. Bergoglio utiliza com freqüência os ônibus e o metrô para deslocar-se pela cidade.