Cardeais brasileiros querem que seja acelerado o início do processo de beatificação de João Paulo II. No início da semana, um grupo de cardeais entregou à cúpula do Vaticano um pedido oficial para que o processo fosse iniciado e entre os nomes que aderiram à proposta estão pelo menos os de d. Eugênio Salles, ex-arcebispo do Rio, e do cardeal d. Geraldo Majella Agnello.
"Eu ficaria muito feliz se João Paulo II fosse beatificado", afirmou d. Eugênio à Agência Estado. Segundo ele, porém, será o novo papa quem decidirá sobre isso. Na terça-feira, o brasileiro foi responsável por celebrar a missa na Basílica de São Pedro em homenagem ao papa. Em sua homilia, d. Eugênio citou como João Paulo II teve papel fundamental na revelação da fé para milhares de pessoas. Para analistas no Vaticano, essa homenagem foi uma forma de insistir na idéia de um papa santo. Mas d. Eugênio garante que não teve essa intenção.
Com ou sem esse objetivo, a realidade é que o tema da canonização de João Paulo II está presente nos debates e corre em ritmo paralelo à escolha do novo papa, que começará na segunda-feira. O tema ganhou nova força depois que o funeral de João Paulo foi marcado por um apelo popular para que ele se tornasse santo. Jornais italianos chegaram a levantar a hipótese de que esse apelo não teria sido espontâneo. Nos últimos dias, o Vaticano emitiu vários sinais de que estaria disposto a considerar a questão.
O primeiro foi a publicação de relatos nos jornais italianos por parte do secretário particular do papa de que um americano teria sido curado de um câncer depois de estar com João Paulo II. Outra indicação do Vaticano: na biografia oficial feita pela Igreja e colocada no túmulo dele consta que o papa "viveu uma vida santa".
Processo longo
Se d. Geraldo e d. Eugênio não se esquivam de comentar o assunto, outros cardeais brasileiros preferem não fazê-lo. Um deles é d. Falcão, que confirmou a existência da petição, mas desconversou sobre se havia se aliado à iniciativa.
Seja qual for o número de cardeais que apóiam a idéia, o processo promete ser longo. O próprio papa havia estabelecido um prazo de cinco anos para as beatificações, embora tenha quebrado a regra para a madre Teresa de Calcutá.
O cardeal português José Saraiva Martins é quem preside os processos de beatificação e de canonização no Vaticano. Em entrevista ao semanário Famiglia Christiana, ele defende o apelo popular para tornar João Paulo II santo, mas acredita que o prazo de cinco anos é "prudente", já que "diluiria as emoções" desse período após o enterro do papa.
D. Geraldo acredita que há mais de 50 assinaturas de cardeais no documento. Mas concorda que, mesmo com a abertura antecipada do processo, as regras para a canonização devem ser seguidas à risca.
Outro elemento-chave na rapidez do processo é o dinheiro que o Vaticano estará disposto a gastar para tratar da questão. Uma pessoa será designada para fazer um levantamento detalhado da vida de João Paulo II, o que exige recursos. De qualquer forma, o tema será um dos primeiros a estar na agenda do próximo papa.
O próprio cardeal Martins acredita que o próximo papa poderá optar por dispensar o período de cinco anos. Para observadores no Vaticano, o processo não deverá levar o mesmo tempo que o da canonização de João XXIII, que morreu em 1963. Naquela época, também houve apelos populares. Mas o papa acabou sendo santificado só em 2000.