A despeito de há longo tempo o Banco Central estar reduzindo a taxa básica de juros, no patamar de 13,5% ela ainda é das mais altas do mundo. O pretexto ou desculpa pelas quedas homeopáticas dos últimos meses continua sendo a necessidade de manutenção de uma taxa que contenha a inflação, que, vez ou outra, ainda assusta, embora esteja infinitamente mais bem comportada do que na recente, porém esquecida, época da hiperinflação vencida com o Plano Real.
As quedas da taxa básica de juros decretadas pelo Banco Central têm críticos ferozes até mesmo nas hostes do governo, dentro da esquerda que resta no PT. Esse grupo, já minoritário no partido e no governo, vinha defendendo juros menores há vários meses, mesmo que à custa de uma taxa maior de inflação e um superávit primário também menos expressivo. Isso desagradaria os credores do governo, daqui e do exterior. O dinheiro que não iria para os banqueiros e grandes investidores serviria para aplicações no desenvolvimento econômico nacional, crescimento que hoje se pretende fazer com o PAC e que tem como ponto essencial o condão de criar mais riquezas e empregos. Aí estão de mãos dadas a esquerda ortodoxa e o empresariado.
Mas, embora ainda se admita que a taxa de juros básica é das maiores do mundo e os juros pagos no comércio e no sistema financeiro são ainda muito maiores, pois não decrescem sequer na média homeopática ditada pelo Banco Central, há uma queda expressiva e ela já surte alguns efeitos.
O principal deles é o aumento do interesse do empresariado pela abertura do capital das empresas, o que formaria um capitalismo democrático em que donos das empresas podem ser todos, dos empresários e investidores milionários ao simples empregado. É assim que funciona nos países capitalistas ricos. Ao contrário do que por aqui muita gente pensa, as grandes empresas, e muitas são multinacionais com forte presença no Brasil, não têm um dono. Não existe aquela figura do poderoso chefão por detrás de uma escrivaninha obrigando o mundo a curvar-se diante dos seus interesses. A maioria das multinacionais é dirigida por executivos, por empregados. E esses executivos, seus altos funcionários, os de menor porte e até os operários são sócios das empresas através da compra, no lançamento de mercado primário ou na bolsa, de suas ações. Quando David Rockefeller era apontado como o poderoso banqueiro dono do Chase Manhattan Bank, verificou-se que nas mãos dele estavam pouco mais de 4% das ações. São as empresas capitalistas democratizadas, que pertencem a milhares de acionistas, não raro até a entidades religiosas ou mesmo sindicatos de trabalhadores. Esse processo de capitalismo democrático exige que os juros no mercado sejam baixos. De outra forma, o investidor vai preferir o capital de empréstimo, o chamado mercado financeiro, que muitas vezes gira como uma ciranda.
A abertura de capital nunca atraiu tantas empresas brasileiras como agora e atrairá mais se os juros continuarem baixando. Em 2006, estrearam na Bolsa de São Paulo 26 novas empresas. No ano anterior foram apenas sete e em 2003, nenhuma. Nos 12 anos anteriores, apenas seis empresas abriram o capital.
A hora é boa e é possível praticar um capitalismo socializado, nada selvagem, com milhares de brasileiros, mesmo continuando empregados, transformando-se em capitalistas. Mas é preciso que o PAC se adeque a essa nova realidade.