O presidente Lula é conhecido por sua loquacidade. É um orador extraordinário. Mesmo não tendo conhecimento muito preciso da língua portuguesa, o que não é exigível, especialmente no seu caso, pois o que lhe falta de escolaridade sobeja em inteligência e habilidade no manejo das palavras, quando discursa impressiona e convence. Talvez não tenha ainda o condão de convencer a minoria abastada. Ou a numerosa classe média. Se é capaz de fazer seu auditório cativo a classe pobre, tem aplausos da maioria. Este é um País pobre e dos pobres. Senão tanto, pelo menos de maioria pobre e que vota. Portanto, capaz de imprimir resultados positivos nas enquetes sobre o prestígio do governo.
Pouco antes de um périplo por países da América Central, Lula declarou, no seu programa radiofônico, que vai anunciar obras de infra-estrutura que transformarão o Brasil em um verdadeiro canteiro de obras. ?Quando eu voltar desta viagem pela América Central, nós vamos começar a anunciar as obras de infra-estrutura no que diz respeito a estradas, a ferrovias, a gasodutos, a tudo, a portos, a aeroportos, ou seja, tudo que tiver de infra-estrutura na área de transportes nós vamos anunciar também e começar a liberar o dinheiro para que as obras comecem a acontecer. Algumas já estão em andamento, outras vão começar a andar agora, outras ainda precisam de licenciamento. O dado concreto é que nós vamos fazer deste País um verdadeiro canteiro de obras em se tratando de infra-estrutura?, disse.
Esse discurso tende a conquistar para o presidente o apoio dos que andam dizendo ?cansei? deste governo. Referimo-nos à classe média em especial e às classes ricas. Aqueles brasileiros que são capazes de aquilatar a imensa importância para a economia do Brasil da infra-estrutura, em especial de transportes. Ou seja, os brasileiros que não aplaudem Lula com o mesmo entusiasmo que as classes mais humildes que são assistidas pelos programas sociais. Mas que vêem suas viagens frustradas, seus negócios emperrados e ficam a imaginar um futuro em que o País se transformaria em uma gigantesca entidade assistencialista.
Lula está bem assessorado quando diz que deu prioridade para regiões metropolitanas dos grandes centros urbanos brasileiros ?porque é lá que está o maior problema de degradação da moradia, degradação da estrutura familiar, violência, crime, narcotráfico. Quando nós chegarmos com urbanização de uma favela, o saneamento básico, junto vai chegar uma escola, junto vai chegar uma área de lazer, junto vai chegar um ponto de cultura, junto vai chegar melhoria na segurança pública naquele bairro?, afirmou. E acrescentou que os municípios e estados a serem contemplados serão selecionados por critérios estritamente técnicos e não políticos. Não importa a que partido pertençam os prefeitos ou os governadores. Se necessária, a obra será feita.
Impossível não aplaudir esse discurso e não torcer para que vá além das palavras. Que se transforme em realidade mesmo. Mas é preciso crer duvidando sempre um pouco. Isso porque no primeiro mandato de Lula 79% da verba aprovada por lei para os órgãos do Executivo não foram gastas. O dinheiro foi retido para pagar dívidas, fazer caixa para o superávit primário. Neste ano de tantas e tão alvissareiras promessas, o bloqueio já passa de R$ 5,3 bilhões. Só a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) foi poupada porque o apagão aéreo ficou insuportável. Especialistas criticam os cortes e o governo não se manifesta.
Infelizmente, há uma distância muito grande entre prometer e realizar. A promessa agrada. A realização, é ver para crer.
