Em depoimento à CPI do Banestado, o ex-governador do Paraná (de 1975 a 1979) Jaime Canet disse desconhecer movimentações financeiras consideradas suspeitas em sua conta no Banco Araucária. As declarações do depoente fizeram com que o presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), e o relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP), apontassem para a necessidade de aprofundamento das investigações sobre irregularidades no Araucária.
– Os esclarecimentos prestados farão com que a CPI aprofunde a investigação. Há necessidade de se adotar normas rígidas para autorizar o funcionamento de instituições bancárias neste país, tendo em vista que pode ter havido movimentações sem a autorização do titular – disse Antero ao final do depoimento de Canet.
A Mentor, Canet ofereceu suas declarações de Imposto de Renda de 1998, ano em que fez uma operação bancária via conta CC-5, e de 2002. Nos documentos, afirmou o ex-governador, estão declarados os recursos que possui nos Estados Unidos. Para completar a documentação, Mentor pediu que Canet entregue à CPI as declarações entre 1999 e 2001. O relator considera que os documentos demonstram que a operação foi legal, tanto junto à Receita Federal e quanto ao Banco Central.
O ex-governador afirmou ainda que não tinha conhecimento que, antes de seguirem para os Estados Unidos, seus recursos teriam passado por Montevidéu, no Uruguai numa operação feita pelo Banco Araucária. Canet disse tampouco saber que Cláudio Roque Casimiro, um suposto ?laranja?, teria feito depósito de R$ 296 mil em sua conta na corretora do Banco Araucária, em 28 de fevereiro de 1998, e que recursos de sua conta teriam sido depositados na conta de Leon Naves Barcelos, outro ?laranja?, em dezembro de 1998.
Esses fatos, segundo o relator da CPI, estão relatados na denúncia que o Ministério Público do Paraná ofereceu contra Canet. Mentor confirmou que os cheques usados para movimentar a conta não são assinados por Canet, mas pela corretora. Para analisar as movimentações, Mentor pediu que Canet apresente à CPI os extratos das operações de sua conta na corretora em fevereiro e dezembro de 1998.
– Não me avisaram e eu nem sabia que tinha esse dinheiro. A corretora devia fazer movimentações sem o meu conhecimento. Se estavam pondo dinheiro na minha conta talvez estivessem cobrindo o que haviam tirado antes – analisou Canet.
O depoente explicou ainda que sua relação com o Banco Araucária se limita ao fato de seu filho ter se associado ao amigo de infância Luís Alberto Dalcanale (diretor do Araucária que está sendo investigado pela CPI) para abrir a corretora de valores que, em 1989, foi transformada no Banco Araucária. Porém, declarou Canet, em 1989, seu filho deixou a sociedade no banco.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) sugeriu que, para garantir a veracidade do depoimento, seja quebrado o sigilo da conta de Canet na corretora do Araucária. Já o deputado Dr. Hélio (PDT-SP) acredita que o depoimento deixou claro que o Araucária era um banco irregular. Ele pediu que a Polícia Federal procure os dois ?laranjas? citados no depoimento para inclusive verificar se essas pessoas efetivamente existem ou não.
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) manifestou-se contrariamente à quebra do sigilo da conta de Canet, por acreditar que a análise da contabilidade da corretora vai identificar as falhas e irregularidades cometidas. Ele também destacou a importância da presença de Canet, por demonstrar que existem operações regulares com contas CC-5. ?O uso da CC-5 não é obra do demônio?, afirmou.
Canet disse ainda a Heráclito que teve prejuízos após a decretação pelo Banco Central da falência do Banco Araucária. Ele e a família, informou, são credores da massa falida do banco, de valores da ordem de R$ 1,7 milhão