A candidatura de Lula à reeleição está em risco. A reeleição, mais ainda. O presidente vem apostando em algumas fichas que podem não ser aceitas pela máquina eleitoral. Uma delas é o apoio popular, que ainda conserva, mas que se desgasta com a crise política. Aliás, o tamanho do seu remanescente prestígio é desproporcional à extensão e profundidade da crise. Ele conserva um percentual de prestígio que só se explica por seu indiscutível carisma, sua retórica dirigida às massas e a blindagem que foi montada em torno da Presidência da República, para que a crise não a contamine.

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Mas a crise continua, repetem-se novos capítulos todos os dias e é possível que, no período da campanha, o prestígio de Lula não mais sustente uma candidatura à reeleição.

Outro risco, o próprio presidente detectou e revelou. É a necessidade de o PT associar-se não mais ao pequeno PL, mas ao grande PMDB, oferecendo-lhe a vice-presidência. Ocorre que nas lideranças peemedebistas, a despeito de o partido de Ulysses continuar a perigosa viagem a bordo do governo, há quase unanimidade a respeito de o PMDB concorrer com candidato próprio.

Agora começa a cair por terra outro sustentáculo importante do prestígio remanescente de Lula, que justificaria sua candidatura à reeleição. O presidente, nos muitos discursos que vem pronunciando Brasil afora e nas declarações que faz, insiste que o grande sucesso do seu governo é o crescimento econômico. E acrescenta as ações no campo social. Estas são para a maioria dos brasileiros ainda imperceptíveis, embora possam até existir. Mas este é um país gigantesco em território, população e carências sociais.

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Quanto aos sucessos econômicos, eles de fato vinham acontecendo, se medidos por crescimento de índices. Pequenos, mas constantes. Muitas vezes, para que se tornassem visíveis, se fizeram cotejos de um percentual atual com outro escolhido a dedo numa época de vacas magras. Mas neste final de ano, no campo da economia as coisas vão de mal a pior. O dólar tem caído a níveis indesejáveis para o setor exportador, justamente aquele que melhores resultados econômicos ofereceu ao País e às análises positivas do governo.

A indústria, afetada por estoques elevados, câmbio desfavorável às exportações, juros altos, arrefecimento do crédito e outros fatores indesejáveis, fechou o trimestre com uma queda de 0,7%. E isto, livre de influências sazonais que, nesta época do ano, proximidade das festas natalinas, são sempre motivo para aumento de produção e vendas.

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O resultado da indústria é o pior desde o segundo trimestre de 2003. Os especialistas estão revisando para baixo suas previsões para o PIB. A alta havia sido de 1,4% no segundo trimestre. Para o terceiro, deve ter variado entre zero e 0,5%. O desaquecimento da economia está fazendo com que as taxas futuras de juros recuem. Acrescente-se o problema da febre aftosa, o medo da gripe aviária, as altas dos juros nos Estados Unidos, e pode-se vislumbrar Lula descendo do palanque.