O que no início da campanha era subliminar, agora ficou explícito. Lúcio Alcântara, governador do Ceará e candidato à reeleição pelo PSDB, além de não fazer qualquer referência ao também tucano Geraldo Alckmin, candidato à presidência, demonstrou, no Horário Eleitoral de hoje, apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ato pode selar o rompimento político entre o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e Lúcio. Os dois vêm se desentendendo desde a insistência do governador em disputar mais um mandato.

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"Eu e o presidente Lula temos um ótimo relacionamento baseado no respeito às nossas diferenças e na consciência comum de que os interesses do povo do Ceará e do Brasil estão acima de tudo", disse Lúcio, na televisão. "Quero continuar contando com a parceria do governo federal e, sobretudo, com a parceria do povo cearense. É assim que vamos continuar conduzindo o Ceará, no rumo certo, para um futuro melhor", completou

No programa de rádio, o governador cearense foi ainda mais direto na vinculação de sua imagem a imagem do presidente Lula, o que é proibido pela lei da verticalização. Ele usou um depoimento de Lula, quando este esteve recentemente em Missão Velha, no Cariri cearense, para o lançamento da pedra fundamental da ferrovia Transnordestina. "Lúcio Alcântara, nesses quatro anos, foi um companheiro que teve uma relação de muita lealdade comigo como presidente da República. Quero fazer justiça. Esse homem foi muito digno no comportamento comigo e com todo o governo", disse Lula em discurso. As únicas referências a Alckmin na campanha eleitoral cearense são feitas por Tasso e por dois fiéis aliados dele, a deputada estadual Tânia Gurgel e o deputado federal Bismarck Maia

A postura de Lúcio soa como revide, uma vez que Tasso deixou claro desde o início que não vai trabalhar para reeleger o governador. Em suas andanças pelo interior cearense, o presidente dos tucanos sequer fala o nome de Lúcio. Ao longo desta semana, o senador tucano cumpre agenda de visita a lideranças cearenses. Por onde passa, ele pede votos para os candidatos proporcionais do PSDB e tenta impulsionar Alckmin, que não passa dos 15% segundo pesquisa de intenção de voto feita pelo Ibope no Ceará. Lula por sua vez registra 70%.

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Lúcio por sua vez, embora diga que Alckmin "é o candidato de seu partido", não move uma palha por ele. Muitos de seus apoiadores estão reeditando uma prática adotada na campanha de 2002, quando se criou um movimento batizado de Lu-Lu – uma referência aos nomes Lúcio e Lula. Em algumas cidades, como Milhã, muros estão sendo pintados com os nomes do tucano e do petista, lado a lado.

Ontem, ao ser questionado sobre o apoio de seus aliados ao presidente Lula, Lúcio respondeu, demonstrando muita irritação, não ser responsável pela ação de seus aliados, e criticou a "obsessão" que a imprensa, principalmente a cearense, tem pelo assunto. "É o candidato do nosso partido. Agora, eu não sou fiscal de eleitor. Eu falo do Alckmin, sou amigo dele", afirmou, enquanto ao fundo, apenas uma vinheta tocada, em alguns momentos em um dos carros de som, fazia menção à candidatura Alckmin.

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Pela vontade de Tasso, o PSDB cearense teria seguido nas eleições estaduais fazendo dobradinha com o grupo político do ex-ministro da Integração, Ciro Gomes (PSB), cujo irmão, Cid Gomes, é o adversário mais forte de Lúcio. O cacique-mor tucano tentou até o último instante demover o governador de disputar a reeleição, oferecendo-lhe a vaga de senador na chapa. Lúcio insistiu e acionou a ira de Tasso, que chegou a convocar a imprensa e a militância tucana cearense para ouvir um pronunciamento cheio de mensagens cifradas. Acusou indiretamente Lúcio de ter "duas caras" e de se deixar levar por "interferências domésticas".

Dias depois, na convenção na qual foi referendado o nome de Lúcio para a disputa, Tasso apareceu, mas sequer subiu no palanque montado na ocasião. Mais adiante, Lúcio deu o troco não aparecendo na inauguração do comitê de Geraldo Alckmin no Ceará. Alegou problemas com o vôo que o trazia de Brasília.