Canal do Panamá atrai construtoras brasileiras

A construtora Norberto Odebrecht vai participar da concorrência internacional para as obras de ampliação do canal do Panamá. A empresa confirmou o interesse no projeto e, em seu escritório no Panamá, funcionários admitiram ao jornal O Estado de S.Paulo que uma equipe será formada e enviada para permanecer no país durante o processo de concorrência. O embaixador do Brasil no Panamá, Luis Caldas de Moura, informou ainda que, além da Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez mostraram interesse no projeto.

No último fim de semana, em uma votação, a população panamenha aprovou o projeto de ampliar o canal ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. A obra, orçada em US$ 5,25 bilhões, terá o objetivo de modernizar e ampliar o canal para que possa ser usado por embarcações maiores. Inaugurado no início do século 20 e com um número de vítimas que ultrapassou 1 mil trabalhadores, o canal foi projetado para embarcações bem menores que as que transportam mercadorias pelo mundo.

Nos últimos anos, o canal vem perdendo competitividade e várias empresas têm optado por alternativas mais baratas, que permitam a passagem de embarcações maiores. Segundo o governo local, se nada for feito, o canal estará obsoleto em 2012.

Ainda assim, 4% do fluxo mundial de mercadorias passam pelas águas panamenhas, principalmente em embarcações americanas, chinesas e japonesas. O Brasil é apenas o 19º maior usuário do canal, já que os navios da Petrobras e da Companhia Vale do Rio Doce têm dimensões que não podem passar pelo canal.

Desde o final da década passada, o governo panamenho percorre vários países promovendo a idéia de uma reforma e da necessidade de investimentos estrangeiros, já que as atividades no canal representam 80% do PIB do país. O próprio Itamaraty já foi palco de reuniões e jantares sobre o assunto entre representantes do governo do Panamá e o setor privado nacional. Em 2000, foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fazer uma visita ao país e mostrar o interesse nas obras.

Com a retirada, em 1999, das tropas americanas do país e a devolução do canal ao governo local, parte da economia panamenha também se viu afetada. Para completar, um projeto, ainda na fase de estudos, de abertura de um novo canal na Nicarágua, mais adaptado às necessidades atuais, obrigou o governo do Panamá a, finalmente, pôr o plano de reforma do canal em andamento.

Um dos objetivos é diminuir o tempo de travessia e permitir que os carregamentos entre a Costa Leste dos Estados e mercado asiático, principalmente da China, possam se tornar mais baratos. Para atravessar o canal, uma embarcação precisa, em média, de 26 horas. Desse total, mais da metade é apenas em filas para entrar no canal de 80 quilômetros.

A empresa brasileira conta que já opera no Panamá desde o início do ano em uma obra de irrigação e, nos próximos meses, poderá ganhar a concorrência para a construção de uma estrada. Presente em praticamente todos os países da América Latina e mesmo em outros continentes, o projeto no canal do Panamá faz parte do fenômeno da internacionalização das construtoras brasileiras, acostumadas a grandes projetos.

A concorrência, porém, promete ser dura. Empresas como Siemens, Evergreen, Mitsubishi, além das americanas Caterpillar, Bechtel, Halliburton e General Electric teriam manifestado interesse nas obras.

No final do século 19, foram os franceses que iniciaram as obras mas as abandonaram depois da morte de centenas de seus funcionários nas matas centro-americanas. O projeto foi resgatado pelos Estados Unidos. O Panamá promete que publicará o edital da concorrência nos primeiros meses de 2007. As obras seriam iniciadas no fim do próximo ano e deverão terminar em 2014.

Bancos

Os projetos ainda chamam a atenção de grandes bancos, inclusive da Suíça. O Credit Suisse já deixou claro que tem interesse nas obras e nos eventuais lucros com a passagem dos barcos. Pelos cálculos da instituição, o financiamento da obra daria retornos importantes. Mas os suíços terão a concorrência de bancos como Citibank, JP Morgan, HSBC e Bank of Tokyo.

Enquanto empresas e bancos se movimentam para ganhar a atenção do governo local, representantes panamenhos na Europa confirmam que uma série de gestões diplomáticas já foram iniciadas por vários governos europeus para deixar claro que o projeto é apoiado por várias capitais.

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