São Paulo – Os acordos firmados por importantes categorias de trabalhadores, com data-base no segundo semestre, registram aumentos reais de salário, ou seja, reajustes acima da inflação. Foram beneficiados com aumento real bancários, metalúrgicos da região do ABC paulista, trabalhadores da indústria de alimentação e comerciários da capital paulista, entre outros grupos. Todas as demais categorias que estão em campanha reivindicam ganhos reais.
"Aproveitamos o sucesso da economia para partilhar os ganhos obtidos pelas empresas", afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijóo. "No momento de crescimento econômico, a empresa percebe que não compensa brigar com o trabalhador e correr o risco de ter a produção paralisada por uma greve. Por isso, preferem dividir uma parcela dos seus ganhos."
Até o momento, os metalúrgicos do ABC, filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), firmaram acordos com quatro grupos empresariais, todos com aumento real de salário. Além disso, asseguraram em pelo menos três grupos (montadoras, fundição e autopeças) a formalização de acordos com validade de dois anos. Por este acordo, os empresários aceitaram conceder aumento real de salário de 5%, distribuídos entre 2005 e 2006, além da correção integral pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Montadoras – O acordo firmado entre o sindicato e as montadoras estabeleceu reajuste salarial de 8,9%, com aumento real de 3,7%. Em 2006, além do INPC, as montadoras se comprometem a fornecer um aumento real de, no mínimo, 1,3%. Nos grupos de fundição e autopeças, os reajustes salariais foram iguais, em 8,16%, com aumento real de 3%, mudando apenas o piso salarial de cada segmento. No ano que vem, além da inflação, os trabalhadores terão aumento real de, no mínimo, 1,99%. "Se somarmos os ganhos reais dos últimos três anos, chegaremos a um índice em torno de 10%", calculou Feijóo.
Não são apenas os metalúrgicos do ABC, categoria com histórico de luta e capacidade de mobilização, que aproveitam a expansão da economia para recuperar salários. O Sindicato dos Comerciários de São Paulo, ligado à Força Sindical e que conta com 400 mil trabalhadores com data-base em setembro, firmou acordo com os lojistas para reajuste de 5,5%, dos quais 1,3% de aumento real.
Os bancários, com data-base em setembro, fecharam acordo coletivo com correção salarial de 6%, além de abono de R$ 1,7 mil e Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 80% do salário de cada trabalhador adicionado à quantia de R$ 800. O pagamento da PLR será dividido em duas parcelas, em novembro e em março/abril. A Confederação Nacional dos Bancários (CNB), filiada à CUT, firmou acordo salarial no dia 17 de outubro, após mais de três meses de intensas negociações e greves em algumas agências bancárias.
Os 12 mil trabalhadores da indústria de massas alimentícias e biscoitos de São Paulo conquistaram reajuste salarial de 8%, sendo 4,99% correspondentes ao INPC de setembro e o restante, pouco menos de 3%, representando ganhos reais. Em agosto, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação de São Paulo, filiado à Força, fechou acordo no setor de sorvetes e congelados com aumento salarial de 10%.
INPC – "São nítidas as perdas acumuladas pelos trabalhadores nos últimos meses e, sinceramente, temos dúvidas se o INPC é um índice sério porque sabemos e sentimos no bolso que os preços estão aumentando, mas isso não reflete no INPC", afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação de São Paulo, Carlos Vicente de Oliveira. "Por isso, entramos na campanha salarial pedindo algo mais do que o INPC divulgado pelo IBGE."
A mesma lógica prevalecerá, segundo ele, na negociação a ser desenvolvida com a indústria do trigo. O sindicato reivindica aumento salarial de 16%, dos quais mais de 10% referem-se a ganho real. "A rentabilidade das indústrias cresceu nos últimos tempos, de 10% a 12%. Os empresário têm margem para conceder um reajuste melhor", argumenta Oliveira.
Outras categorias que permanecem em campanha são os metalúrgicos do Estado de São Paulo, reivindicando 14% de reajuste. Os químicos, por meio da Federação, ligada à Força, quer 12% de reajuste, mas o sindicato da categoria, que é filiado à CUT, pleiteia 16,14%. Os petroleiros cobram 10,2%.
