É certo que as campanhas eleitorais fazem muita gente torcer o nariz. É porque, depois de os eleitos assumirem os seus cargos, o odor da demagogia que se ouviu nas praças públicas se torna evidente. E acaba com eventuais esperanças trazidas pelas faixas plantadas durante a campanha. As próximas eleições ainda ocorrerão sem a necessária – aliás, imprescindível – reforma eleitoral. A inexistência de fidelidade partidária permite o absurdo de políticos eleitos e pretendentes a cargos eletivos migrarem de um lado para outro, ao sabor de suas pretensões, em troca de vantagens até mesmo pecuniárias, quase sempre em prejuízo do eleitorado. Vota-se num candidato do partido ?a? e ele acaba nos representando no partido ?b? ou ?c?.
A infidelidade também continua em relação aos mandatos. O eleitor, através do voto, dá procuração para um político para realizar o que pessoalmente prometeu, que deve corresponder ao programa do seu partido. Mesmo que ele não mude de partido, muitas vezes não segue a linha programática da agremiação a que pertence. Quando não acontece de o próprio partido virar a casaca, realizando o que condenava ou deixando de realizar o que prometera.
O governo Lula, ele próprio e a direção do seu partido pretendem que as próximas eleições, por serem municipais, não signifiquem um julgamento do governo federal. Assim tem se manifestado o presidente da República e o presidente do PT, José Genoino, declarou que tal não pode e não deve acontecer.
Olhando para trás, veremos que os partidos, em cada campanha, costumam endeusar os seus membros que já ocupam cargos eletivos. E pintar de ouro as suas gestões. O próprio PT teria tido os melhores prefeitos; teria sido o partido mais ético do País; seus chefes de executivos seriam os que melhor atenderam as demandas sociais. Tal propaganda objetivou sempre indicar ao eleitorado que, se eleitos candidatos da mesma agremiação, repetirão o que seria a boa performance de seus correligionários.
Como há até no próprio governo a impressão de que ele não vai bem ou, pelo menos, não está cumprindo quantitativa e qualitativamente as promessas de campanha, tenciona-se agora que o eleitor vá às urnas este ano não fazendo julgamento do governo federal e, com isto, transformando o pleito em um processo plebiscitário, contra ou a favor do governo. O quadro que se desenha, entretanto, indica que haverá esse aspecto plebiscitário. Boa parte do eleitorado, ao votar para prefeitos, estará votando contra ou a favor do governo federal e também dos estaduais.
Lula declara que ficará longe dos palanques, mas numa reunião pública que acaba de realizar apelou para seus correligionários e aliados que se preparem para responder com coragem todas as críticas que façam ao seu governo. Fez esse apelo porque sabe que não será poupado nos palanques, mesmo que o povo esteja elegendo prefeitos e não um novo governo federal.
No mais, é certo que este pleito de 2004, mesmo distante da futura eleição para presidente da República, estará iniciando o caminho para a sucessão de Lula ou sua reeleição. Por isso, a estratégia de o governo Lula defender-se nos palanques das eleições municipais. Tudo o que o governo fizer ou deixar de fazer nesta campanha eleitoral terá repercussão na próxima eleição presidencial. Lula não esconde que pretende ganhar nas urnas mais quatro anos de mandato. Terá, pois, de completar os dois anos e meio que ainda lhe restam com um governo voltado para o povo, mais distante do que vem lhe dizendo a cartilha do Fundo Monetário Internacional.