É normal que pessoas de bem, revoltadas com os escândalos que envolvem o Poder Executivo, o Congresso, o PT e seus aliados, esperassem cassações por atacado. Afinal de contas, são farinha do mesmo saco. Esse sentimento de revolta fez com que se temesse que a mesa da Câmara, agora presidida pelo comunista Aldo Rebelo, ex-ministro de Lula, engavetasse o relatório da corregedoria geral, nada mandando ao Conselho de Ética. Poderia inventar, por exemplo, que as provas contra os deputados beneficiados pelo mensalão, caixa 2 e outras negociatas são insuficientes. Ou outras desculpas que, mesmo esfarrapadas, serviriam como escusa formal para nada fazer.

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Mas a mesa da Câmara cumpriu com o seu dever. Por 5 votos a 1, decidiu dar seqüência ao processo. Foi contra só o deputado João Caldas, do PL de Alagoas. O fato de nem a corregedoria nem a mesa da Câmara mandarem o imenso calhamaço de papelada sem fatiá-lo, ou seja, um processo específico contra cada deputado indiciado, não compromete. As negociatas foram tantas e os depoimentos e investigações em número tão plural que tudo se transformou numa indigesta montanha de papéis. Fazer de tudo aquilo processos em separado contra cada deputado seria, para a corregedoria, praticamente impossível. E impossível também para a mesa. Mas a indignação não pode exigir que o fatiamento do processo, com autos em separado contra cada deputado indiciado, não se faça. Mesmo em situações como a que o Brasil vive, em que a gente tem vergonha de ser honesto, como diria Rui Barbosa, há que se realizar o justo processo legal. Só as ditaduras mais intransigentes e sanguinárias fizeram, ao longo da história, processos e condenações em massa. O Conselho de Ética teve a difícil missão de montar um processo contra cada deputado indiciado.

Esse respeito ao devido processo legal, inescapável, infelizmente fará com que as cassações demorem meses e há quem considere que o tempo labora em favor dos culpados. Podem beneficiar-se do arrefecimento da ação dos acusadores e do ?deixa pra lá? que é a política de Lula, para que nada aconteça. Ou apenas um ou dois bodes expiatórios sejam cassados. E parece tão fácil tapear mais uma vez alguns currais eleitorais, tanto mais quando é usado despudoradamente dinheiro de origem escusa, como aconteceu nas últimas eleições.

O processo de cassação em bloco só se justificaria se tudo tivesse caminhado para a declaração de nulidade das eleições compradas ou financiadas com dinheiro de origem ainda não explicada e que formou o caixa 2 e os mensalões.

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Esse caminho, que seria mais higiênico para a política brasileira, consideraria nulas todas, não só as eleições dos deputados, senadores, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e governadores que usaram o caixa 2. O PT e partidos aliados ficariam numa pior, pois foram sustentados por esses recursos ilegais. E a conclusão final, inescapável, seria de que o próprio presidente Lula estaria exercendo um mandato sem sustentação legal, pois foi eleito por seu partido e aliados com o uso de dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral, contrariando a legislação. E dinheiro de origem obscura.