Câmara entra em crise cheia de denúncias sobre entendimentos

Um dia depois da absolvição dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), a Câmara entrou numa grande crise, recheada de acusações de acordos sub-reptícios entre o PT, o PFL e partidos da base do governo.

"No plenário, o clima era de falta de compostura. Não se analisava a justiça ou não das punições, mas se constatava uma certa frouxidão moral incentivada pela vontade da base governista, somada a alguns partidos de oposição", atacou o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), pré-candidato a presidente.

Brant, absolvido com 283 votos, 127 a mais do que o dos que optaram por votar na perda do mandato, procurou negar que tenha havido um "acordão" entre o PFL e o PT. Mas não convenceu. "O PFL tem 60 deputados e o PT, 90. Dá 150 votos. Se houvesse acordo, eu e o Luizinho estaríamos cassados porque não haveria votos suficientes para sermos absolvidos. Como pode haver acordo sem a participação de todos os partidos?", disse (na verdade, o PFL tem 63 deputados e o PT 82, o que soma 145 votos).

"A grande questão é que as pessoas não estão se conformando com o fato de o plenário considerar inocentes pessoas acusadas pelo Conselho de Ética. Eu o e o Luizinho fomos absolvidos porque somos inocentes", disse.

Apesar da insistente negativa dos parlamentares e dos dirigentes de legendas sobre o possível "acordão" para livrar parlamentares da perda do mandato, as suspeitas existem por todos os lados. Para o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), pode até não ter sido feito pelos dirigentes partidários porque as diferenças são grandes, mas que existe alguma coisa, existe. "Acho que existe um sentimento de solidariedade entre os caídos (ameaçados de perder o mandato). Isso contamina quem está ao lado e o voto acaba sendo pela absolvição", disse.

Nas duas sessões que absolveram Brant e Professor Luizinho, ficou claro que PT, PFL e PSB estavam no mesmo lado. Quando o deputado do PFL de Minas Gerais, o primeiro da fila de cassação no dia, terminou o discurso, o líder da sigla na Câmara Rodrigo Maia (RJ), desistiu de fazer a defesa dele. O lugar foi ocupado pelo deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ). O deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), que estava inscrito para pedir a cassação de Brant, recuou. Justificou-se: "Queria fazer questionamentos, mas desisti."

Na sessão seguinte, que julgou o deputado do PT de São Paulo, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) foi à tribuna para dizer que tinha votado pela absolvição do deputado do PFL, um homem de bem, segundo ele, e que não tinha culpa alguma. Com isso, pediu a contrapartida à agremiação para salvar a pele de Professor Luizinho. Em seguida, o deputado Mussa Demes (PFL-PI) subiu à tribuna e pediu pela absolvição do deputado do PT. "Esse homem já sofreu demais. Vamos liberá-lo para que volte para o seio de sua família", disse.

A rigor, só têm feito discurso pela cassação de mandatos os parlamentares do Psol e do PDT. Invariavelmente, os deputados João Batista Araújo (Psol-PA), o Babá, Luciana Genro (Psol-RS) e João Fontes (PDT-SE), inscrevem-se para pedir a cassação dos nomes que chegam do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. Já o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), que também ocupa a tribuna durante os julgamentos, costuma direcionar a fala para a defesa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.

Eles recebem muita pressão. São constantemente vaiados quando sobem à tribuna. "Sempre sou procurado. Querem saber se vou fazer discurso. Quando digo que vou, pedem para eu desistir" afirmou Babá. A pressão extrapolou o palavreado. Durante o julgamento do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), absolvido, o deputado Osvaldo Biolchi (PMDB-RS) tentou parar o deputado do Psol do Pará na marra. "Subia as escadas para chegar à tribuna quando o deputado Biolchi pediu que eu não discursasse. Como insisti em fazê-lo, ele agarrou-me pelas pernas. Eu dei um safanão e disse: me larga, sô."

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