Em vez de se empenhar para esclarecer as suspeitas levantadas contra os deputados, a Câmara reagiu à Operação Sanguessuga com ataques aos responsáveis pelas investigações. Depois de limitar as investigações a 16 parlamentares da lista de 62 apontados pela Polícia Federal, como supostamente envolvidos no esquema de compra superfaturada de ambulâncias com recursos do Orçamento da União, líderes partidários não querem mais aceitar as listas de suspeitos preparadas pela Polícia Federal. Mais que isso: agora cobram explicações da PF, do Ministério Público e da Justiça.
Os governistas se reuniram hoje com o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e decidiram pedir ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que devolva a segunda lista encaminhada pela PF na noite de quarta-feira passada com o nome de 81 parlamentares e só a receba novamente quando as investigações estiverem concluídas.
"O Ministério Público e a Polícia Federal têm o dever de concluir o trabalho de investigação antes de mandar para cá", afirmou Chinaglia, no final da reunião com líderes do PTB, do PL do PSB, do PMDB e do PT. Os deputados argumentam que as listas não são totalmente consistentes, mas estão provocando desgaste para toda a Casa. "Se uma funcionária lembrou e, com a delação premiada, está fazendo acusações a granel, isso é rigorosamente insuficiente", afirmou Chinaglia, referindo-se a Maria da Penha Lino, funcionária do Ministério da Saúde presa em Cuiabá.
De manhã, em discurso aplaudido no plenário, Chinaglia sugeriu que os representantes das três instituições envolvidas nas investigações sejam chamados à Câmara para explicar aos deputados o vazamento dos nomes dos parlamentares para a imprensa e para identificar os deputados que estão sob investigação.
Chinaglia propôs também que Aldo Rebelo faça um pronunciamento no rádio e na TV para explicar à sociedade o escândalo envolvendo deputados, assessores parlamentares, empresários e funcionários do governo federal. "A Câmara tem de dar uma resposta à altura", defendeu Chinaglia. "Se tiver culpa, tem que ser punido. Mas uma lista misturando os que devem e os que não devem compromete a imagem da Câmara e da democracia", continuou o líder. "É preciso mostrar à sociedade o que há de culpa nisso. Não pode ficar todo mundo no mesmo nível", afirmou Chinaglia, acusando de irresponsabilidade a divulgação da lista.
O corregedor, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), também endureceu o discurso. Ele acusou a Polícia Federal de ter agido de maneira ilegal e chamou de irresponsável o juiz de Mato Grosso que trata do processo. Ciro Nogueira disse que a Polícia Federal, independentemente de autorização do Supremo Tribunal Federal, está investigando os parlamentares, o que contraria a lei. Ele disse também que o juiz não teve a responsabilidade de pedir à Polícia Federal que separasse os deputados contra os quais há indícios de envolvimento dos que apenas foram citados por terem apresentados emendas ao Orçamento. "O juiz foi irresponsável nesse caso", afirmou Nogueira.
A comissão de sindicância, presidida pelo corregedor, decidiu hoje convidar o delegado da PF responsável pela "Operação Sanguessuga", Tardelli Boaventura, e o procurador da que acompanha o caso, Paulo Gomes Ferreira Filho, para depor. Além dos dois, serão convidados os empresários e pessoas ligadas a Planam, empresa que vendia as ambulâncias, e a funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, presa em Cuiabá. Depois desses depoimentos, a comissão pretende ouvir os 16 deputados acusados de envolvimento no esquema.
Na linha de reação institucional, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), propôs que haja uma reunião do presidente da Câmara com o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Para o líder pefelista, o vazamento de listas misturando supostos envolvidos com outros contra os quais não há indícios é uma estratégia para beneficiar os culpados. "Alguém está usando desse artifício para mudar dados e vazar nomes. Para ter investigação séria é que não é", afirmou o líder.
Aldo Rebelo está em viagem ao Uruguai e Argentina. Segundo nome na linha sucessória, Aldo atravessa a fronteira do País cada vez que o presidente Lula viaja ao exterior. Se ficar no Brasil, Aldo, na ausência de Lula e do vice José Alencar, tem a assumir a presidência da República, o que o deixará inelegível nas próximas eleições de acordo com a lei eleitoral.