O presidente Lula, em diversos dos muitos discursos que já pronunciou, falou na necessidade de que haja calma para governar. A impaciência foi por ele sempre condenada, seja a dos governistas, seja a das oposições que condenam pelo que o governo ainda não fez. A calma é recomendável para governar um país como o Brasil, de tantos, tão grandes e complexos problemas. Ela ajuda a fazer as coisas bem pensadas e adequadas.
Hoje, o que se critica no governo Lula não é a calma que ele pede e exercita. Reclama-se é da lentidão. Tudo o que diz que fará é para mais tarde. Algo como os versos do “Pedro Pedreiro”, de Chico Buarque, retrato do trabalhador, do cidadão comum que vive de promessas e esperanças a se concretizarem no futuro. Nunca agora, embora as necessidades já sejam sentidas.
Pois o próprio presidente Lula acaba de criticar a lentidão do Congresso Nacional, dizendo que “as coisas não andam tão rápido como vocês desejariam nem como eu gostaria. Muitas vezes, o Congresso vai aprovar alguma reforma em dois ou três meses, até que alguém resolve fazer uma emenda e o projeto demora mais para ser aprovado”.
Do alto de seus 96 anos de idade, do título de o maior ou um dos maiores arquitetos do mundo e de militante de esquerda por décadas, Oscar Niemeyer, em pronunciamento feito em Belo Horizonte, criticou o presidente Lula por trabalhar muito devagar para resolver os problemas nacionais. Evidente que a crítica de Niemeyer deve ser considerada. Mais grave, entretanto, foi a reação do presidente da Câmara dos Deputados, o petista João Paulo Cunha, às críticas de Lula à lentidão do Congresso Nacional. João Paulo acusou o governo de deixar as negociações com o Legislativo para a última hora e editar um número excessivo de medidas provisórias, atrapalhando o funcionamento do Legislativo. E que, quando deseja a votação de alguma matéria importante, não coloca no plenário número suficiente de parlamentares para que haja quórum e o resultado almejado. “O governo tem interesse em determinada matéria, mas não trabalha antes e deixa para a última hora”, disse o presidente da Câmara.
Outra reclamação do petista João Paulo é que o governo não exerce a maioria que tem, quando é necessário destrancar a pauta e dar andamento nas votações de projetos de interesse do próprio governo. E queixou-se, em conversas particulares, que essa lentidão e vagareza do governo acaba caindo sobre as costas do presidente da Câmara, que é apontado como responsável por não andarem com a necessária rapidez os projetos no Legislativo.
É devagar que se vai longe, diz o ditado. No caso do governo, acusado de lentidão, apesar de argumentar que é apenas calmo, é devagar também que se vai longe, o que não significa necessariamente que serão atingidos os objetivos desejados. A lentidão do governo nas tomadas de decisões e na elaboração de projetos, que se esperava já tivesse esboçado na campanha eleitoral que levou o atual grupo ao poder, já foi objeto de críticas severas não só de lideranças partidárias aliadas e de petistas de carteirinha, como João Paulo Cunha, mas também do MST e da CNBB.
O que parece verdade é que, no atual governo, além de uma disputa intestina por liderança e poder, tem havido um constante bater de cabeças. Muitos dos auxiliares de Lula, inclusive e principalmente seus mais importantes e prestigiosos ministros, se chocam amiúde. Andam devagar, aos tropeços e sem a calma aconselhada pelo presidente.