Calendas gregas

Como se previa há muito tempo, dado o travamento das atividades do Congresso Nacional às voltas com três comissões parlamentares de inquérito, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar enleado com os processos de cassação do mandato de mais de uma dezena de deputados, a renúncia e a eleição do novo presidente da Câmara, o prazo para a aprovação da reforma política escoou-se e nada foi feito.

O presidente Aldo Rebelo ainda tentou uma tímida reação em prol da reforma, mesmo em cima da hora, mas os obstáculos foram tantos que restou a possibilidade de optar por um projeto de emenda constitucional, prorrogando o prazo para a aprovação da reforma até dezembro. Como se vê, sequer a reforma política de emergência aprovada pela CCJ do Senado entrou na pauta de discussões da Câmara.

O dia 30 de setembro era a data limite para a introdução de modificações indispensáveis na legislação eleitoral, com efeitos válidos na eleição do próximo ano, haja vista a celeuma causada pela concupiscência exacerbada do conglomerado de partidos que brotou da eleição de Lula, os indícios de corrupção em várias empresas estatais e a nebulosa situação causada pelos empréstimos intermediados pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, para pagar as campanhas eleitorais do PT e seus coadjuvantes.

A composição atual do Congresso acabou por escancarar a face mais abjeta do jogo político, levado às últimas conseqüências por uma falange de oportunistas e fisiológicos, cuja presença incômoda no parlamento escudou-se num termo pejorativo (baixo clero), cujo legítimo significado foi adulterado pelas aves de rapina adonadas dos postos de comando dos respectivos partidos.

A expressão, que visava englobar aqueles deputados com menor exposição na mídia em decorrência da modesta atuação em plenário e comissões internas, até pela precária condição intelectual, o que não é defeito, passou a acobertar os espertalhões que usaram o mandato como instrumento de barganha, locupletação e tráfico de influência.

Salvo a aprovação da emenda constitucional prolongando o prazo da reforma, para muitos um casuísmo a mais, as eleições gerais de 2006 ainda não estarão indenes das patifarias do caixa 2, das campanhas tocadas a preço de ouro e inúmeros outros expedientes que, sabidamente, têm viciado o exercício do voto livre.

Perda irreparável para uma nação distanciada, mercê da nocividade de certos políticos, do aperfeiçoamento do rito democrático e vista com menosprezo por povos mais avançados.

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