O lombo do povo é a mais retumbante das caixas de pancadas. Mais até que a dos tamborins surrados pelas baquetas de Carnaval, pois este é um barulho alegre. Nas massas mais sofridas, até um desabafo. Um pouco de alegria e felicidade, depois de anos de sacrifícios e carências. A greve no INSS e não o Carnaval inspiram-nos a figura tétrica do povo apanhando, principalmente os pobres. São em maior número, porém mais indefesos que as classes melhor aquinhoadas.

Na greve dos médicos da Previdência, os aposentados e pensionistas, à falta de perícias médicas, ficam sem receber seus sempre parcos benefícios. E os mais pobres, que são a esmagadora maioria, passam fome, vêem agravadas suas doenças e dores e dão com a cara na porta do INSS. Os médicos estão em greve.

Neste caso, não diríamos que os médicos são os ricos e muito menos que são os culpados. Na verdade, um médico da Previdência, no Brasil, não ganha nenhuma fortuna. Talvez ganhe até menos que a importância e dignidade da profissão recomendariam. Mesmo assim, aplica-se o que se faz necessário, ou seja, não receberão pelos dias parados. Greve no serviço público essencial nunca deveria ocorrer. Aliás, não deveriam ocorrer causas que justifiquem tais greves e, aí, temos de reconhecer que tanto os aposentados e pensionistas do INSS, quanto seus médicos, têm razão, embora no momento estejam em lados opostos.

Há poucos médicos na Previdência, não são admitidos em maior número em concurso público, como manda a lei, e sempre há o escape da contratação pela CLT, ilegal e não raro instrumento de protecionismo político para apaniguados. E ainda ganham pouco e trabalham, também, em jornadas nem sempre completas. Culpa de quem? Certamente não da clientela da Previdência, os aposentados e pensionistas, idosos que um ministro de Lula quis colocar de castigo nas filas, para provarem que estão vivos. Que ainda estão vivos!

Esta que pagou suas contribuições durante muitos anos de trabalho e, agora, com essa reforma que o governo exigiu e o Congresso engoliu, continuará pagando.

Culpa dos médicos? Também absolutamente não. Eles têm toda razão quando reclamam que são poucos, que não são feitos concursos públicos e o governo quebra o galho na base das ilegais contratações pela Consolidação das Leis do Trabalho.

A culpa é, obviamente, do governo federal, ao qual o INSS está subordinado. Não exclusivamente do governo Lula, embora este tenha a sua larga parte de responsabilidade. Culpa também dos governos passados, os executivos e o próprio Legislativo, que nunca cuidaram da Previdência com o desvelo que ela exige.

Os médicos da Previdência, em greve, não são os culpados, embora nos pareça adequado descontar-lhes os vencimentos dos dias parados. Os aposentados e pensionistas e demais clientes da previdência pública são exclusivamente vítimas.

O governo, que aparece na cena como se estivesse dedicado a solucionar o problema, é na verdade o autor do tétrico enredo. O enredo de baterem nas costas do povo, com mais violência no lombo dos pobres, sempre acreditando que estes reclamarão, chorarão, clamarão por justiça. Mas não passarão desses lamentos. E, inocente vai, nos próximos pleitos, eleger os mesmos que os sacrificaram durante tantos anos, sem saber que deveriam exigir, de quem mereceu seus votos, soluções e não discursos. Nem dentaduras, cestas básicas, benemerência. O povo pode ter o governo que merece, mas não tem, do governo, o que merece.

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