Caixa 1 suspeito

As muitas investigações encerradas, interrompidas, engavetadas ou ainda em curso revelam que, no mar de lama da política nacional, a prática sinistra do mensalão, pagamento mensal a parlamentares que passaram a apoiar o governo, não ficou suficientemente provada. Mas isso não consola, pois provado foi, inclusive por confissões, que em períodos diversos, que não mensais, às vezes mais curtos ou mais longos, importâncias foram pagas para formação de caixa 2, financiamento por fora, ilegal, de campanhas eleitorais, às escondidas da Justiça Eleitoral. E que houve quem embolsou parte do dinheiro, o que constitui imoralidade e crime tão grande ou até maior que o mensalão.

Os nossos políticos se escusam com o argumento de que o caixa 2 existe há muito tempo e funcionou e funciona em todos os partidos e para todas as candidaturas. Ou quase todas, pois, por incrível que pareça, ainda existem políticos honestos neste País. Há os que se elegem usando apenas os meios lícitos e as importâncias permitidas pela legislação eleitoral, prestando contas adequadamente à Justiça.

Ficou provado também que, muito embora as forças situacionistas tenham sido campeãs nessa batalha por arrecadação de dinheiro escuso e compra de votos ou pagamento de campanhas, o que no fundo é a mesma coisa, pois o objetivo é engodar o eleitorado, de fato há casos de caixa 2 também no PSDB, se bem que não no pleito para a Presidência da República.

As denúncias não param e a cada dia surgem novos capítulos e novos fatos. Agora aparecem provas de que nem o caixa 1, aquele que é repositório do dinheiro legal para campanhas eleitorais, com a devida prestação de contas à Justiça Eleitoral, tem sido prática limpa. Surgiu a denúncia de que na campanha do PT para a Presidência da República foram apresentadas à Justiça notas fiscais de R$ 795,7 mil à empresa Santorine Comercial e Distribuidora, pagamento de propaganda e publicidade. Só que na Junta Comercial dita empresa lidaria com alimentos e bebidas. Aparecem como sócias no contrato social duas mulheres que agora se verifica serem uma desempregada e uma dona de casa que nunca ouviram falar em Santorine. A empresa foi fechada em fevereiro de 2003, com a baixa do seu contrato social na Junta, mas parece que nunca existiu. Seus endereços são um terreno baldio, depois ocupado por uma oficina mecânica e um galpão. A empresa certamente era fantasma.

Mas esse fantasma ou ?fantasminha camarada? também recebeu dinheiro do PSDB de Mato Grosso e das campanhas a deputado federal do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT-MG), e de José Dirceu (PT-SP), que acaba de ser cassado.

A Santorine Comercial e Distribuidora foi fachada para algum prestigioso ou alguns prestigiosos malandros tentarem dar legitimidade a dinheiro sujo com notas frias. Tudo isso se descobre agora, às vésperas de mais um ano eleitoral e sem que nenhuma mudança séria tenha sido feita na legislação eleitoral. Não será de se estranhar que os políticos malandros repitam, se não o gigantesco caixa 2 da campanha passada e da presidencial, pelo menos um viciado e nada confiável caixa 1, que se alimenta de negócios com ?fantasminhas camaradas?.

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