Para as eleições de 2010, quando o eleitorado escolherá o sucessor do presidente Lula, delineia-se uma política ?café com leite?, envolvendo as forças políticas de Minas Gerais e de São Paulo. Afasta-se, desde logo, um terceiro mandato para Lula, não só porque o presidente já declarou publica e solenemente que não o aspira, como porque tal volta ao poder teria cara e cheiro de golpe de Estado, o que já foi tentado por Hugo Chávez na Venezuela, com aberta rejeição da população. No mais, já é público o fato de que no atual condomínio em que se constituiu a atual administração federal, a vaga de candidato a presidente, nas hostes situacionistas, é reivindicada pelo PMDB – nem existem nomes no PT capazes de disputá-la.
Lula, de qualquer forma, desponta desde logo como um grande, melhor dizendo, o maior cabo eleitoral, mercê de seu discurso populista e a forma como usa, propagandisticamente, os programas sociais que não inventou, mas que implementou como adubo de prestígio político-eleitoral. Nisto tem sido infinitamente mais eficiente que Fernando Henrique Cardoso, que os criou, mas não soube deles recolher dividendos.
Há um mérito de Lula e um demérito evidente das forças ditas burguesas que apoiaram FHC. Referimo-nos à incrível capacidade do atual presidente de postar-se como figura intocável diante dos muitos – diríamos demasiados – escândalos que envolveram e envolvem a sua administração. Ele nunca é culpado, nem mesmo surge como conhecedor das mazelas que cercam o Planalto ou nascem no seu interior, não raro na ante-sala do gabinete presidencial. Há um eleitorado majoritário lulista, que não titubearia em inocentar o presidente de qualquer pecado, até mesmo do cogitado, mas obstaculizado, desejo de continuar no poder.
O PMDB, entretanto, está dividido. E não em dois blocos, um abertamente pró-Lula e outro contra, mas em muitos outros que se formam ao sabor dos apetites de cada momento. O que parece indubitável é que, na formação de uma candidatura situacionista, PT e PMDB estarão juntos apoiando um candidato do outrora maior partido do ocidente, aquele liderado inquestionavelmente por Ulisses Guimarães.
Surge a perspectiva de uma volta à política ?café com leite?, em que as forças decisivas surgem de São Paulo e Minas Gerais. Talvez não em acordo como os do passado, mas de qualquer forma com a escolha dos disputantes à presidência advindos dos dois estados, que por tanto tempo mandaram na política nacional.
Adianta-se Aécio Neves, governador de Minas Gerais e neto de Tancredo Neves, candidato do PSDB. Ele já procura lideranças de partidos assentados em São Paulo e que fazem parte, com maior ou menor vigor, da base governista atual, buscando apoios para ser o nome da sucessão presidencial. Sabe o jovem governador mineiro que a coalizão situacionista é maleável e que o fato de Lula ser nordestino, pernambucano de nascimento, nada significa, pois sua história política foi erigida em São Paulo, como líder sindical.
O quadro que se delineia é de uma sucessão em que se unirão forças mineiras e paulistas e, em qualquer caso, o PMDB encimará a chapa situacionista, influirá na formação da chapa oposicionista ou poderá até somar com Aécio num movimento de destruição de todo o condomínio governamental hoje montado. Aécio sabiamente sai na frente enquanto no PT parece haver conformismo com a perspectiva de que não terá candidato próprio. As condições políticas não favorecem o partido de Lula. Nem tem nomes de seus quadros para apresentar, embora um ou outro possa se destacar, porém sem cacife para reivindicar o apoio dos demais partidos situacionistas.
As próximas eleições presidenciais, no atual andar da carruagem, tudo indica que serão o enterro do petismo como partido operário, de esquerda, populista, fenômeno bem-vindo na política nacional, mas que nem com os indiscutíveis méritos políticos de Lula conseguirá sobreviver como revolução que foi com a eleição, por duas vezes, do líder sindical saído das forças operárias do ABC paulista.