Cadeia de comando

Uma ironia inexplicável ocorre neste País, despontando em meio à caudalosa torrente de atropelos da nossa vida institucional. As várias nuanças que a história propõe, tratadas com a verve de um autor experimentado na produção de romances de sucesso, certamente fariam surgir mais um campeão de vendas.

Em linhas gerais, a história é a seguinte. Militares das três armas envolvem-se em missões sumamente arriscadas em defesa da pátria, enfrentam inimigos sorrateiros nas regiões de fronteira, vigiam o espaço aéreo e marítimo ou se preparam em regime de dedicação exclusiva para rechaçar o invasor estrangeiro.

Enquanto isso, em casa, suas mulheres gastam o tempo planejando passeatas e manifestações às portas do Palácio do Planalto, para reclamar em altos brados dos míseros ganhos dos maridos.

Homens treinados para enfrentar quaisquer desafios – fome, sede e frio – os militares se esforçam por cumprir a missão constitucional de proteger a integridade territorial do País, zelar pela ordem interna e oferecer as garantias necessárias para o bom desempenho da própria gestão democrática da República.

Tempo houve neste País, e não faz muito, que os principais chefes militares, em perfeito consenso com figuras do alto mundo dos negócios, tomaram a contrapelo da vocação nacional a decisão de substituir os civis na tarefa de governar.

Tanto apreciaram os generais as novas responsabilidades que lá se foram vinte anos sem devolver a faixa presidencial. Quando o fizeram, o último presidente do ciclo militar sequer concordou em entregar pessoalmente a faixa ao sucessor eleito pelo rito ainda em vigor.

O desassombro desses homens é fato corriqueiro e nunca assaz louvado pela crônica do militarismo brasileiro. Eles estiveram na Guerra do Paraguai, na Cisplatina e na Segunda Guerra Mundial, abafaram revoluções libertárias, prenderam e arrebentaram.

Uma coisa, contudo, militar brioso se recusa a fazer. Jamais concordaria em participar de passeatas ou erguer cartazes escritos a mão para reivindicar o aumento dos soldos. Quando muito concordam em assistir pela televisão o desempenho das mulheres, nesse mister, colocadas na vanguarda da cadeia de comando.

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