Às voltas com problemas de todos os naipes e em todas as frentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece estar perdendo, também, a sua capacidade de negociar – qualidade advinda das lides sindicais que sua biografia ressalta, já que nula completamente de experiências no campo da administração pública. E a capacidade perdida lhe faz falta já no desenrolar deste governo, prenunciando o fim das esperanças de uma possível reeleição, um dia cogitada. A “frente de oposição” que acaba de ser lançada pelo PSDB, PFL e PDT, unidos para evitar o pior, é o primeiro sintoma.
Um ano e três meses ainda incompletos separam o presidente Lula da retumbante posse, saudada como o marco zero de quase tudo no Brasil dos descobrimentos. Segundo ele próprio define, terminou ali o tempo bom no poder, iniciado com o anúncio do resultado das eleições, quando era “só festa”, “só glória”. Depois da posse, “só problemas”. Infelizmente, não apenas para quem governa, mas, principalmente, para os governados à espera do paraíso prometido.
É preciso entender, no entanto, que os piores problemas não foram criados pelos eleitores, esperançosos e confiantes nas mudanças prometidas, nem mesmo pela oposição, até aqui desarticulada e compreensiva (para não dizer leniente) com a sucessão de erros do governo. A partir do primeiro embate com os companheiros da chamada ala radical, expulsos sumariamente do partido para não incomodar o resto, quase todos os problemas de Lula brotaram internamente, numa sucessão impressionante e crescente, quase sincronizada. Só agora começam a surgir as primeiras manifestações externas, como essa da Ordem dos Advogados do Brasil, pedindo um novo modelo econômico e, principalmente, o fim de “ações assistencialistas, retrógradas, que favorecem o clientelismo”.
Em que pesem “só problemas” alegados por Lula, a fragilização de seu governo perante a opinião pública tem a ver, a rigor, com um só fato: as tentativas desesperadas de acobertar a corrupção quase visível através de um ex-assessor parlamentar. Waldomiro Diniz era o braço-direito de José Dirceu, o principal ministro que, encurralado por fatos e atos ligados ao submundo da jogatina e fundos de campanha, passou a fazer discurso de governo em causa própria sem perceber que de estilingue passara a vidraça. Lula perdeu a oportunidade de dar a volta por cima quando, prisioneiro do talento do assessor, dele não prescindiu por algum período – o necessário para tudo investigar, esclarecer e, assim, manter incólume sua credibilidade e prestígio.
Mas o problema que era também Dirceu passou a ser vendido como sendo apenas Waldomiro. E, então, passou a ser Lula. Esse fato já cruzou fronteiras. A organização Transparência Internacional, em relatório que acaba de ser divulgado em Londres, dedica um capítulo ao Brasil e afirma que Lula tem feito muito pouco para combater a corrupção. “Embora a luta contra a corrupção tenha sido um tema tradicional nas campanhas do PT e sido citada como uma das iniciativas durante o discurso de posse, o novo governo implementou poucas medidas concretas para enfrentar o problema”, cita o relatório. Diríamos que, pelo contrário, objetivamente o governo do PT procurou impedir a investigação ao boicotar todas as iniciativas de instalação de comissões parlamentares de inquérito no Congresso.
Mesmo assim, nem tudo estaria perdido se Lula conseguisse aproveitar outro momento que se lhe é oferecido na formação dessa “frente de oposição”. O presidente do PSDB, José Serra, garante que essa “soma de esforços” oposicionista “tem o propósito de fazer o bem ao Brasil” já que “é diferente, não joga para o quanto pior, melhor”, como nos tempos do PT. Ora, onde está o negociador diante de tamanha colher de chá, jamais dada a governo algum, conforme muito bem sabem os que ontem apostavam no “quanto pior, melhor”? Queiramos ou não, a sorte do Brasil e dos brasileiros está ligada aos próximos passos do presidente Lula.